segunda-feira, 13 de junho de 2011

Capitulo dezenove: Presente.

- Eu a odeio, quero ter Marek de volta. – Brige resmungou ajeitando o uniforme da aula de preparação corporal na segunda feira.

- Você nem teve aula com ela ainda. – Ri.

- Não importa, eu quero Marek de volta. Vocês ainda o terão em Técnica em duelo, devia ter nascido bruxa em vez de metamorfa, a senhora Leonidas não precisa nem mudar de forma pra assustar. – Dramatizou.

- Parem de fofocar feito duas velhas e vamos pra aula. – Cherrie interrompeu com um sorriso.

Descemos os gramados, a maioria da sala já estava lá.

Ben logo apareceu a nossa frente.

- Em cima da hora. – Disse enquanto passava os braços pela minha cintura.

- É primeira semana de aula, anormal é algum aluno no mundo não estar num estado meio-zumbi. – Brige reclamou.

- Falado sobre as férias? As minhas foram incríveis. – Ouvi uma voz perto. Quase havia me esquecido dela.

Lia sorriu quando me virei para encará-la.

- Roma é sempre tão linda. Você se lembra da Roma, não é Benjamin?

- Se concentre na aula Lia, nos esqueça um pouco. – Bem respondeu.

Lia revirou os olhos e com seu sorriso nojento, se afastou.

- Definitivamente não senti falta dela. – Ironizei.

- Todos em fila. – A voz da professora McKenzie interrompeu as outras.

O vampiro Vicente Pêron, a fada Lory MacKenzie, e bruxa Melanie Novaes, agora de volta ao antigo cargo, nos colocaram para correr. Literalmente, depois de uma sessão de alongamentos fomos correr pelos gramados da escola. Professor Pêron liderou os vampiros e logo eu os perdi de vista, eles são rápidos, você sabe.

E para minha surpresa, eu também era bem rápida, acredito que só graças ao treinos extras com Marek, mas mesmo assim tive que diminuir meu ritmo para que Cherrie e Brige pudessem me acompanhar.

A aula não demorou a passar.

- Gabriela Alcântara? – A voz da professora Novaes rompeu o gramado no fim da aula. Sinalizei para que Cherrie e Brige seguissem em frente, junto com s outros alunos.

- Sou eu. – Respondi entre respirações pesadas. Estava cansada pela corrida.

- Muito prazer, minha querida. Ouvi falar muito de você.

- Ouviu?

- Claro. Nem todos os alunos aqui são netos de heróis.

Oh não, por favor, achei que a parte me que todos perguntavam sobre minha avó havia acabado depois do primeiro mês de aula.

- Ah... – Me contive para não sair andando com raiva da professora, era algo que eu faria antes.

- Você me parece uma garota de muito potencial, minha querida, eu gostaria de trabalhar nisso em você. – Tudo bem, ela estava sendo legal demais comigo, não sei era por isso ou pelo seu tom de voz quando dizia ‘minha querida’ mas eu não estava me sentindo bem perto daquela mulher.

- Obrigada, mas o professor Marek já me ajuda com treinos individuais. Acho que se tivesse mais aulas ficaria sobrecarregada.

- Ah, claro. Marek Giatti. – Outra vez a aquele tom, como se ela tivesse uma piada maliciosa interna. – Mas você pode vir falar comigo sobre qualquer coisa querida, estou aqui para te ajudar. – Ela deu um sorriso amigável. – Vou ficar de olho em você.

- Gabriela! – Eu queria responder, mas a professora encarou o chamado de Ben como uma deixa para sair.

Logo ele parou ao meu lado, a frentes dos outros vampiros que haviam voltado junto com o professor Vicente.

- Hãã... Interrompi algo importante? – Ben perguntou encarando minha expressão confusa.

- Não. – Respondi. – Mas acho que agora concordo com Brige, quero Marek de volta.

Tap, tap, tap... O chão estalava forte enquanto eu corria.

Tap, tap, tap... Não havia tempo para prestar atenção a minha volta, mas eu sabia onde estava, embora não lembrasse como havia ido parar lá.

Os corredores do Instituto Ametista pareciam me sufocar, labaredas vermelhas dançavam nas tochas, não era o feitiço do fogo frio, essas chamas iluminavam mal, eu quase não podia ver o que acontecia. Mas não havia tempo para saber, eu tinha que correr... Correr de que?

Meus pulmões pesavam, meus pés doíam, havia uma ventania fria colidindo contra meu corpo, fazendo o meu vestido cinza estapear minhas pernas.

De onde vinha a ventania? De onde vinha o frio? Uma saída. Corra para a saída.

Gabriela... Gabriela... Gabriela...

Um murmúrio chamava as minhas costas. Eu continuei correndo.

Ah garotinha detestável, quer brincar de esconde-esconde? Talvez você encontre sua alma em algum lugar...

Frio aumentava a cada passo? A saída estava perto?

Isso no chão é gelo?

Ah não... Você não pode encontrar sua alma... Eu devorei sua alma, meu monstrinho querido, por isso eu tenho que pegar você...

E de repente eu estava no chão... Era tanto frio. Onde estavam minhas pernas? Eu não podia sentir minhas pernas.

Estava nevando. Nevando no corredor da escola, nevando sobre mim.

O murmúrio havia se transformado em uma gargalhada estridente, as chamas cresciam e iluminavam os quadros. Não eram mais aquelas belas pinturas dos sorrisos gentis das criaturas mágicas mais importantes, eram outros rostos. Rostos que eram importantes apenas para mim.

Mamãe, vovó, Cherrie, Brige, Ben e Marek. Todos me encarando. Todos com os olhos totalmente brancos e a face manchada com lágrimas de sangue.

Todos mortos.

Todos rindo de mim.

Acordei em um pulo. Os cabelos grudados na minha pele suada e meu coração acelerado. Minhas companheiras de quarto continuavam a dormir como se nada tivesse acontecido.

Mas nada havia realmente acontecido.

Me enrolei na coberta. Minhas pernas tremiam e meu corpo estava quase encharcado de suor frio.

Os olhos brancos e as lagrimas de sangue. Já era a segunda vez que isso acontecia em um dos meus sonhos.

Depois de uma hora tentando dormir, caminhei para o chuveiro, deixando a água quente escorrer demoradamente sobre mim. Sob protestos de uma Cherrie já acordada na porta vesti meu uniforme e sai de lá.

- Isso, acabe com toda a água do mundo e nos atrase pra aula! – Exclamou.

- Bom dia Cherrie! – Ironizei.

– Shiiiiu! Você vai acordar Abgail e Anastásia. – Ela sussurrou apontando para as gêmeas que ainda dormiam. Cherrie tinha o costume de levantar mais cedo que todas nós para se arrumar. Você sabe, ela é meio perua.

- Claro, eu que quase derrubei o quarto todo. – Sussurrei de volta. Ela me mostrou a língua.

- Ah, eu pensei ter ouvido algo e aquilo estava na porta. É pra você. - Ela apontou para minha cama. – Agora, com licença. -Ela entrou no banheiro.

Fui até minha cama e encarei uma pequena caixa branca, meu nome escrito em uma caligrafia curvada na tampa. Devagar, puxei o laço de cetim dourado que a amarrava.

Abri o pacote. Minha garganta secou.

Haviam dois frasquinhos do vidro, um com água e outro com sangue, um prato de prata e um lenço feminino bem antigo, com direito a renda e inicias gravadas.

Por último vi um pequeno bilhete, a mesma caligrafia inclinada dizia:

“Você quer as respostas? Sabe como encontrá-las.

E cuidado com as lágrimas, foi a parte mais difícil.

Beijinhos”

Encarei o lenço de novo, especificamente, as inicias bordadas nele.

A.P.

Amélia Pellegrini.