terça-feira, 24 de agosto de 2010

Capitulo três: Médium

No quarto, Anastácia e Abgail Osírio, gêmeas igualmente altas e morenas, escolhiam suas camas. Embora a aparência fosse igual, Anastácia é do tipo falante, Cherrie não demorou em se enturmar, Abgail é de muitos sorrisos e poucos comentários. Anastácia se orgulhava de ostentar um belo colar, enquanto Abgail tinha um pequeno anel, ambas de hematitas.

- O que acha? – Cherrie rodopiou nas sapatilhas pretas me mostrando o vestido rosa bebê.

- Ótimo. – Sorri.

- Você vai se arrumar? Sabe, se demorarmos ficamos sem comer. – Ela riu.

- Eu estou pronta. – Arqueei uma sobrancelha para meu all star e meu jeans preferidos.

- Ok. Gafe minha. Desculpe. – Cherrie ficou sem graça.

- Não tem problema.

Anastácia e Cherrie seguiram todo o caminho em uma animada conversa sobre roupas. Algo sobre um desfile de algum estilista de não sei aonde...

O salão do jantar, como todo o castelo, era iluminado pelas tochas de chama branca. O feitiço do fogo frio. Contraditório, não? Ainda mais para as mentes humanas, não me leve a mal, mas elas são tão fechadas e pequenas, ao menos a maioria das quais conheci. Desculpe, mas não entendo essas criaturas. E acredite, ainda há uma grande parte humana em mim.

O que torna tudo isso ainda mais curioso...

Oh, sim! O salão. O chão é todo em madeira e as paredes se erguem num tom de palha claro, exceto pela parede da esquerda, essa era construída por rochas onde brotavam fontes de água, ali o lago de fora se estendia por grande lençol freático, encantado claro, para dentro do salão, onde as sereias nadavam. A nossa frente, haviam professores de todas as espécies, afinal bruxos tinham aulas com bruxos, metamorfos com metamorfos e assim por diante. Eles estavam sentados em uma grande mesa retangular e escura, o contrario das nossas mesas, as dos alunos, essas eram redondas e claras espalhadas por todo o salão.

Dentre os professores, no meio a mesa, reconheci o rosto de Abelle de Giry.

- Vamos procurar uma mesa. – Cherrie sorriu. – Gabi, você viu a Lucy?

- Não.

Só para constar. Eu odeio que me chamem de Gabi.

- Encontrei! – Ela sorriu se esticando até ficar nas pontas dos pés. – Vamos?

O “Vamos?” não me parecia uma proposta para que eu pudesse recusá-la.

Lucy, toda risonha como Cherrie, estava na mesa com mais três bruxas, nas quais eu reconheci os rostos de mais cedo, além de outros dois bruxos, uma fada e um elfo.

- Hey pequena! - Lucy aumentou ainda mais seu sorriso enquanto nos aproximávamos e nos púnhamos ao lado de sua mesa. – Gabriela! E vocês duas eu ainda não conheci.

- Anastácia e Abgail. – Anastácia respondeu pelas gêmeas.

- Sentem aí! – Lucy sorriu apontando algumas cadeiras vaziam com a cabeça.

Cherrie logo puxou uma e eu a segui me sentando ao seu lado.

- Oh, eu e Abgail já marcamos com outros amigos.

- Ah, tudo bem. Tem certeza?

- Vão perder a chance de se sentarem à mesa dos veteranos? – Um dos bruxos, alto e louro, disse em tom brincalhão.

- Não liguem para o Brad, ele é idiota.

Brad fingiu uma expressão ofendida e todos riram.

Menos eu.

- Nós já marcamos mesmo, fica para a próxima! – Anastácia interrompeu o riso.

- Lucy, não me chame de idiota na frente das calouras, olha só, elas nem estão me respeitando mais!

- Ninguém nunca te respeitou Brad!

Abgail e Anastácia riram e despediram-se de novo, saindo.

- Eu não sou idiota, não liguem para o que ela diz! – Brad riu para Cherrie e para mim.

- Ah é! – Lucy se lembrou de nós. - Cherrie e Gabriela essa é a galera. Galera, a minha pequena e amiga dela, Gabriela. - Sorri, automaticamente, com e menção do meu nome.

- Como se a maioria aqui já não conhece-se a Cherrie, né Lucy! – Uma bruxa negra riu.

- Posso terminar meu discurso de apresentações, Brooke?

- A vontade senhora majestade suprema.

Eles riam e riam... Não que eu entendesse o que tinha de tão engraçado ali.

- Então, essa é Brooke, minha súdita! – Lucy sorriu para a bruxa que fez uma careta. – Miguel. – O bruxo de cabelos pretos espetados e olhos incrivelmente azuis. – Giusppe. – O elfo de pele Oliva e olhos prateados. – Amanda. – A fada loura de olhos roxos cintilantes. – Brad, o idiota. – Outra careta de Brad, loiro alto e de olhos claros. – Carmem – Uma bruxa ruiva – E Jessica. – A ultima bruxa, essa de cabelos castanhos bem claros.

Cherrie logo se enturmou em uma conversa animada sobre alguma coisa que não me importava.

O som de um talher batendo numa taça de vidro deu inicio a um silencio em todo o salão.

Abelle de Giry ia falar.

- Alunos, queridos alunos. Os que voltam e o que chegam, amanhã será nosso primeiro dia letivo, e nosso corpo acadêmico é o melhor e nossa escola é de tradição portando espero que vocês saibam tirar o proveito certo desses quatro anos onde acima de tudo, vocês deverão aprender o controle e a tolerância. Não pretendo prolongar muito meu pequeno discurso, além de apenas dizer, Bem vindos! – Ela sorriu bondosamente. – Vamos ao nosso jantar.

Grandes mesas retangulares surgiram perto das paredes, a maior era a com a nossa comida de bruxo. Não se assuste, é a mesma dos humanos, que também é a mesma dos metamorfos. Uma repleta de flores e frutos para as fadas e os elfos, é flores e furtos. O que também incluía os centauros, mas esse só comem frutos, nada de flores. As sereias comem plantas aquáticas, que já deviam estar, obviamente, dentro da água.

E uma última mesa, eu poderia ter imaginado qualquer coisas, qualquer coisa que não fosse tão irônica assim. A mesa com a “comida” dos vampiros.

Haviam três enormes cálices repletos de sangue onde eles simplesmente pegavam e enchiam seus copos como se fosse um ponche de frutas.

Mas antes isso do que assassinatos na minha frente. Não Abelle de Giry é uma bruxa, bruxos são muito civilizados para isso...

Oh meu deus, mas ainda assim era sangue. Nojento. E eles ainda estavam lá, sorrindo como se fosse tudo absolutamente normal, bom, normal não é uma palavra que se deva aplicar a uma escola de aberrações, não é?

- Gabriela... – Ouvi a voz de Lucy chamando. – Não se assuste nenhum humano morreu ali. – Ela explicou acompanhando meu olhar para as taças. – Bom tecnicamente quem iria receber as doações pode ter morrido, mas todo o sangue bebido no instituto é roubado das doações dos hospitais. Não que roubar seja certo... Mas é melhor matar, não é mesmo?

- Oh. – Idéia de bruxo, aposto. Talvez isso tornasse menos repugnante, mas ainda assim. Era nojento.

- Talvez por isso os humanos façam tantas campanhas para doações. Deve ser difícil manter um estoque alto em qualquer hospital com tantos vampiros sedentos por aí...

Brad estava no começo de uma piada.

Claro, qual assunto seria melhor para uma piada do que um bando de vampiros pseudo-civilizados por aí.

Era todo o draminha adolescente das escolas humanas de novo. Piadinhas, namorinhos e todos os diminutivos enjoativos.

Desculpe, sei que você deve me achar uma grande chata. Mas acredite, eu não me importo.

Talvez seja por isso que eu não tenha muitos amigos, talvez seja por isso que eu me sinto deslocada em qualquer lugar em que eu vá.

Talvez, eu devesse esquecer o passado e passar por cima de tudo, talvez eu devesse superar, pessoas perdem pessoas queridas todos os dias. Eu não era mais especial por isso.

E já fazem dez anos, dez longos anos mas eu me lembro como se fosse ontem...

“O que você quer dizer com isso, mamãe?

- Oh Gabriela, querida... Agora somos só nós duas. Vovó não vai voltar.

Eu sentia as lágrimas de minha mãe caídas sobre meus cabelos enquanto ela me abraçava.

- Eu quero minha vovó, mamãe... Eu quero”

Não me condene, eu não conheci meu pai e éramos eu minha mãe e minha avó. Até minha avó morrer e só me sobrar minha mãe que eu tive de deixar no mundo humano para vir para essa droga de escola...

Eu odiava também pensar sobre isso, não quero me fazer de coitadinha, a maioria das pessoas são capazes de resolver seus próprios problemas, eu deveria crescer logo e aprender a lidar com isso sem sentir que meu coração estava se rasgando...

Eu deveria...

Deixei meus olhos vagarem na esperança de me distrair.

E eu o vi, não se importava em ser social e sorrir como os outros. Estava sozinho em um canto, e era impossível de não se notar, digo, ele era inegavelmente lindo, mesmo para um vampiro.

Não que isso importasse claro. Mas a sua pele já pálida parecia mais reluzente a luz do fogo branco, ele é alto, ao menos comparado a mim, e forte bem musculoso. Seus cabelos eram totalmente pretos num estilo despenteado-arrumado caindo sobre a testa. E seus olhos, ah, eram um tipo de verde-musgo. Eu nunca vi olhos como os dele antes.

Não que a beleza de Benjamin Bertrand fosse realmente importante.

Por um momento tive a impressão de seus incríveis olhos verdes encontrarem os meus olhos castanhos e sem graça. Por um momento, desviei meu rosto e encontrei o de Miguel conversando animadamente com Cherrie.

- Vamos pegar a comida.

- Claro! – Concordei.

Mais um ponto a favor da escola, a comida é ótima.

O jantar prosseguiu sem que eu pudesse tirar grande divertimento dele.

Algumas observações...

Primeira. A fada Amanda e o elfo Giusppe são um casal.

Segunda. Lucy não poupava ofensas a Brad, mas eu realmente me perguntava o porquê de também não formarem um casal, quando até eu via o obvio ali.

Terceira. Jessica e Carmem são primas.

Quarta. Benjamin não parecia de muitos amigos.

Eu sei, não foi um jantar muito produtivo.

Estávamos eu, Cherrie e as escadas. Oh, finalmente a caminho do dormitório.

- Então, Benjamin Bertrand te conquistou como? Esbarrando ou com seu pedido de desculpas todo carinhoso, como era mesmo? Ah, “Preste atenção no que você faz” algo assim não era?

- O quê? – Indaguei olhando a cara presunçosa de Cherrie.

- Benjamin Bertand. Não pense que eu não reparei e não me faça de tonta Gabriela! – Ela disse risonha. – Você não pode mentir para mim!

- Não sei do que você está falando.

- Oh, quando eu digo que não pode mentir para mim, eu digo no sentido literal. Eu sei quando estão mentindo para mim! – Ela fez rosto ofendido.

- Ah com certeza você sabe!

- Bem, na verdade eu sei mesmo. Gabriela... Eu sou médium. – Ela disse envergonhada.

Espere ai... Ela disse médium?

- Você é o que?

- Médium. – Ela repetiu.

- Você tem uma ônix, é médium... Mas algum segredo que eu deva saber sobre você Cherrie? A noite você tenta conquistar o mundo?

- Com certeza não pode ser mais assustador do que ver você fazendo uma piada, senhorita mal-humor.

- Engraçadinha.

Ela riu.

- Quando você diz ser médium, na verdade não quero me intrometer, se não quiser responder é só dizer. – Lancei meu melhor sorriso a Cherrie.

- Diga.

- Inclui a parte de falar com os mortos? – Perguntei de uma vez.

- Ah. Isso. – Ela pareceu pensativa um momento. – Não sou uma médium tão poderosa assim. Na verdade o conceito médium vem de “aquele que fala com o espírito” seja um espírito em uma pessoa viva ou um espírito sem corpo. Por isso eu sei quando mentem para mim, eu posso... sentir... – Cherrie fitou o nada, confusa.

- Ah sim.

Isso soava mórbido até para mim, mas uma parte de mim se sentiu decepcionada por Cherrie não falar com os mortos.

- Então isso nos leva ao grande ponto da questão aqui. Benjamin Bertrand!

- Eu não estava mentindo sobre isso!

Ele era um vampiro. Um vampiro! Por mais bonito que fosse era um sanguessuga mal-educado! Alguém pode explicar isso para ela?

- Então você não está mentindo só para mim. Mas para você mesma também!

- Cherrie, por favor. Cale a boca.

Ela riu divertida.

Será um longo ano.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Capitulo dois: Ônix.

-Sim – Cherrie guardou a pedra escura dentro da camiseta.

- A sétima pedra. – Aceitei sua mão estendida e me levantei. - Você tem uma das sete pedras! Porque não disse?

Lembra dos talismãs? Então temos as sete pedras mais importantes do mundo bruxo. Importantes e poderosas. O diamante, com o da diretora Abelle de Giry, a Ametista era segunda no poder, mas essa teve todos os seus bruxos mortos em uma guerra há dez anos... A guerra onde minha avó morreu.

Todos os povos têm suas tragédias, não?

Enfim, o Rubi em terceiro, a Esmeralda, Topázio, Alexandrite e Ônix.

- Oi, meu nome é Cherrie Katashi. Cuidado comigo. Tenho uma ônix e posso explodir sua cabeça com ela. Prazer!

- Ok, soa entranho. – Admiti em pé.

- Obrigada. Podemos subir agora? – Ela resmungou menos simpática.

- Sim.

Grandes escadarias de mármore nos levavam do salão principal até as torres que separavam as espécies. Vinte e uma turmas bruxas, dezesseis turmas de metamorfos e lobisomens, doze turmas da fadas e elfos, seis de sereias e tritões, três de vampiros e, finalmente, apenas uma de centauros.

Seguindo pelos degraus fomos até a torre bruxa.

O interior do instituto fazia jus a sua beleza exterior.

As escadas e corredores formavam quase um labirinto, que Cherrie parecia conhecer bem. Sorte a minha por isso, tenho quase certeza que me perderia para achar o corredor certo.

O longo e certo corredor mostrava portas de um até trinta. Com a diferença dos números, os corredores se repetiam nas torres de cada espécie.

- Aqui. O quinze é o nosso. – Cherrie sorriu apontando a porta de madeira escura com os números “15” em prata.

O dormitório era bem espaçoso. Havia quatro camas, cada uma com uma placa com os nomes e os uniformes ensacados acima dos edredons tom de vinho. E uma porta clara dava acesso a um pequeno banheiro.

- As outras duas garotas ainda não chegaram. “Abgail e Anastácia Osírio” – Cherrie leu nas placas. – Devem ser irmãs ou primas.

- Provavelmente. – Conclui tentando dar meu melhor sorriso para Cherrie.

- Tudo bem, desculpe.

- Pelo que?

- Por tentar ser sua amiga, já que você está querendo lançar um feitiço para colar meus lábios.

- Eu nunca pensei nisso. – Ela arqueou uma elegante sobrancelha para mim.

- Ok, não exatamente isso.

Cherrie colocou a mala de mão na cama.

- Tudo bem, só devia ter me dito algo... Não quero ser irritante, nem quero que você pegue raiva de mim. Vamos ter que dividir um quarto o ano inteiro afinal, talvez mais.

- Cherrie, olha... Você não é irritante, na verdade, eu sou, não gosto de blá blá blá , tanto que minha mãe e minha avó sempre foram minhas únicas amigas, e minha avó morreu a dez anos atrás. Então, caso você não me ache uma grossa insensível, eu gostaria de ter uma nova amiga, o que quero dizer é que você é uma pessoa legal, mas não precisa tentar acabar com todo o silêncio a sua volta. – Sorri.

- Tudo bem, vamos fazer um acordo. Eu falo menos, desde que você se empenhe em melhorar seu humor! – Ela estendeu a mão para mim.

- Fechado. – Apertei.

- Então depois de desfazer as malas, caso você queira eu posso te mostrar a escola. E te apresentar minha irmã. Caso você queira. – Ela ressaltou a ultima parte.

- Ótimo. – Sorri por fim.

Eu não tinha grandes expectativas que Cherrie cumprisse o trato, mas, por pior que eu seja. Sei que na é legal ofender pessoas quando elas estão sendo legais com você.

- Ah os uniformes! Continuam os mesmos, feios! - Ela sorriu apanhando um dos pacotes na mão. Havia cinco. Três dos padrões e dois dos de ginástica.

- E você conhece algum tipo de uniforme bonito?

- Você está certa.

Larguei minha mala de lado e me concentrei em provar o uniforme.

O Banheiro era o mais lugar mais simples que encontrei até agora. Era de um tom palha, pia de mármore. O sanitário. E um Box de vidro separava o chuveiro.

- Hey, estamos na turma bruxa três. – Ouvi Cherrie do lado de fora da porta – Primeira aula amanhã é de Fluência. E vamos ter dois tempos. Depois uma de Astronomia. Uma de Magia antiga, e três tempos seguidos de técnica em duelo, por Deus. A terça parece mais interessante, os dois últimos tempos são de preparação corporal, sabe a única aula em que as espécies se misturam. Quem sabe temos uma turma vampira junto com a nossa...

Imagino que Cherrie tenha ditado o horário da semana inteira. Mas eu estava distraída o suficiente provando o uniforme padrão.

O camisete era branco e a saia era rodada e cinza até a altura do joelho. Por cima havia um enorme sobretudo preto, imitando uma espécie de blazer comprido que caia até a altura da saia. Cherrie tinha razão. Eles eram bem feios.

- Eu disse que eram! –Recobrei a atenção em minha colega de quarto, agora encostada na portado banheiro segurando um enorme espelho onde eu podia ver meu corpo inteiro.

- De onde você tirou isso?

- Da minha mala. – Ela deu de ombros.

Observei o meu reflexo, minha mesma pele bronzeada e os cachos com quem lutava para manter controlados caindo por um palmo depois dos meus ombros.

Um estudante. Uma bruxa estudante.

- Acho nem todo feitiço redutor do mundo, vai fazer com que todas minhas roupas caibam nesse guarda-roupinhas! – Ela resmungou pensativa olhando para a sua esquerda.

Uma olhada rápida e vi todas as grifes caras em cima da cama de Cherrie. Um belo contraste com os meus jeans e camisetas.

Enquanto Cherrie pregava seu espelho ao lado de sua cama eu voltei para minha blusa vermelha e meu jeans.

...

Cherrie cumpriu sua promessa de mostras a escola.

Havia um rio aos fundos, onde as sereias viviam, os enormes gramados, os salões enormes do térreo, as escadas de mármores que nos levavam ao corredores das salas de aula e aos dormitórios, Tudo iluminado por tochas de uma chama branca. Ah, magia.

Todo o chão era de uma pedra escura e havia grandes quadros nas paredes. A maioria eu saberia dizer o nome se conseguisse me lembrar melhor das histórias da vovó. Os maiores líderes das criaturas mágicas no passado. Obviamente, a maioria era bruxa, mas olhando atentamente você encontraria um metamorfo, vampiro ou algo parecido.

O primeiro rosto que reconheci, foi o mais fácil. Os cabelos pretos bem presos em um elegante coque atrás da cabeça, a pele clara com fortes marcas de expressões da idade. Selene Brown, a última bruxa da pedra Ametista a morrer. A mais forte.

- São bem bonitos. – Cherrie comentou percebendo minha atenção nos quadros.

- Minha avó me contou histórias sobre a maioria desses bruxos. Até meus sete anos, antes dela morrer, nós passávamos todas as tardes juntas conversando. Eu adorava aquilo. O Cheiro dos biscoitos que ela cozinhava... Eu nunca vou me esquecer.

- De onde você é?

- Rio de janeiro, Brasil.

- Não conheço, mas morei em São Paulo. Quando tinha uns oito anos. Ou talvez sete. È bem bonito... Mas quando se é uma japonesa cara-pálida você vai preferir o frio.

- Não gosto do frio, prefiro o sol, as praias. O calor.

-Faz jus ao seu sangue. – Ela riu. - Minha mãe é americana e meu pai é japonês. Eu nasci em New Orleans, mas nós nos mudamos bastante, agora meus pais estão Yokohama. – Ela riu. – quando eu digo que mudamos bastante, quero dizer baaastante. Acho que nunca ficamos mais de um ano na mesma cidade.

- Isso não é... Ruim?

- Eu já me acostumei. Mas talvez por isso eu estivesse tão aciosa para vir pra cá. Vou ter que ficar quatro anos, instabilidade finalmente. – Ela sorriu.

Eu nunca havia saído sequer do Brasil antes. Cherrie foi de New Orleans para São Paulo, ao Japão e sabe se lá pra onde mais...

- Hey, Lucy! - Cherrie gritou para um grupo de garotas. - Minha irmã! – Ela virou para mim.

Não foi difícil achar Lucy em meio das outras. Era uma Cherrie aos vinte e um anos, cinco centímetros mais alta. A maior diferença no rosto era o cabelo igualmente preto, mas mantido num corte chaneel curto no lugar dos enormes fios de Cherrie.

- Hey pequena. – Ela sorriu. - Hey desconhecida. – Ela se aproximou acenando com a cabeça.

- Gabriela. – Me apresentei.

- Prazer. – Ela sorriu. – Vejo você no jantar. Preciso encontrar a Amanda Byness ainda. Não a vi as férias inteiras.

- Tudo bem.

- Até pequena. Gabriela. – Lucy acenou com a cabeça e saiu seguida por outras três garotas também sorridentes.

- Tinha em esquecido do jantar. Preciso ir me arrumar...

- É só daqui a três horas!

- Estamos atrasadas. – Ela puxou meu braço...