domingo, 28 de novembro de 2010

Capitulo doze: A filha do pecado.

Marek surgiu e quase teve uma crise quando viu o ombro retalhado de Ben, acho que todas aquelas manchas de sangue deviam dar um tom bem dramático a situação, principalmente porque também pensei que a professora Lory fosse desmaiar.

Mas por fim, os três professores, Vicente, Lory e Marek, conseguiram levar todos os alunos de volta para o castelo e acredito que ninguém teria outra aula pratica de preparação corporal tão cedo.

Mas, o fato é que Ben precisava da enfermaria e eu precisava dormir uns três dias seguidos. Sério. Meu estomago estava completamente embrulhado, minha cabeça girava e eu sentia frio nos pés, provavelmente devido a minha... Perda de sangue.

Não que estivesse reclamando de algo.

- O que aconteceu? – Marek resmungou para nós, foi o único a perguntar, já que os outros dois professore mantinham todos os outros no “curso de fuga”.

- Aquira, ela achou que seria divertido enlouquecer. Me deixou sozinha no meio das árvores, e depois Ben me achou.

- E o que achou vocês? – Ele completou admirando o machucado.

- Um filhote de cerberus. - Foi Ben quem respondeu.

- Um o que?

- Filhote deles, sozinho. Deve ter se desgarrado do grupo.

Do grupo. Como se o tal filhote não fosse ruim o suficiente.

- Cerberus? Aqui? Você ficou louco! É impossível. Eles não voltaram. – Foi a primeira vez na minha vida em que vi Marek sério. Ele parou rígido encarando Ben como se fosse sair socando alguma coisa a qualquer minuto.

- Meu ombro não parece real pra você? – Ben respondeu igualmente ríspido.

- Vão pra enfermaria. Falaremos depois. – Marek finalmente deu de ombros. – Vou fazer um feitiço pra rastrear Aquira... e manter os outros alunos dentro da escola. – O professor arquitetava mais o plano para si mesmo do que para nós.

- Faça isso. – Ben me puxou para dentro da escola, Cherrie e Brige, tão quietas atrás de nós que eu quase nem em lembrava delas.

- Você precisa concertar esse ombro. – Murmurei.

- Você precisa descansar.

- Não vai sumir de novo? – Abaixei os olhos, não queria que ele pensasse que eu estava totalmente desesperada pensando na possibilidade de ele se afastar, porque eu não estava. Não mesmo. De jeito nenhum...

Ok, talvez um pouco. Mas acho que agora ele era meu... Amigo. Certo? Eu ficaria do mesmo jeito com Cherrie ou Brige, obviamente.

- Porque eu faria isso? – Ele respondeu sorrindo.

- Já fez antes.

- Antes... – Ele suspirou - Você me quer por perto?

- Quero. – Respondi tímida.

- Então terá. – Ele sorriu e soltou minha mão, meu mal estar pareceu em atingir com força total sem o encaixe da mão dele na minha.

Deus. Eu sou patética. Fim.

Até mesmo o som dos passos dele pareciam mais lerdos e cansados que o normal, e mesmo que ele não estivesse andando com a sua leveza natural, era impossível tirar meus olhos dos seus cabelos, sua nuca, suas costas, suas pernas...

Não. Eu sou muito mais do que patética, ainda mais porque eu devia estar com um sorriso bobo-alegre bem grande na cara quando me virei e dei de cara com Brige de dois olhos arregalados e Cherrie com um sorriso-segura-gargalhada.

- Nem se atrevam a dizer uma palavra. – Resmunguei.

- Eu sempre estou certa! – Cherrie não deu ouvidos a minha ameaça.

- Como se fosse preciso sentir a alma de alguém quando esses olinhos brilhantes denunciam tudo. – Brige riu.

- Calem a boca! – Tentei parecer mal-humorada mais acabei rindo também.

- Vamos pro dormitório senhorita invalida. A não ser que queria se passar por donzela indefesa de novo. – Cherrie insinuou.

- Alias, o que aconteceu exatamente? – Brige interrompeu.

- Longa história.

Contei resumidamente enquanto íamos para o quarto, tantas palavras e tantos passos agora pareciam me cansar ainda mais, olhar o número quinze na porta do dormitório que dividia com Cherrie e as Gêmeas Osírio foi uma grande alivio.

Haveria mais aulas no dia, Anastácia e Abgail estavam com sua turma em alguma delas agora, mas não era um bom momento para pensar nas minhas faltas.

Sentei na cama e vi que meu pulso continuava amarrado com o resto da camiseta de Ben, e eu mesma murmurei um feitiço para fechar os pequenos cortes, estava tão cansada e desconcentrada que acabei por deixar uma linha tênue formando uma cicatriz com formato de meia lua na minha pele.

- Espere. Vou fazer uma poção de cura. – Cherrie falou se lançado para seu guarda roupas enquanto eu tirava os sapatos.

Em meio minuto ela me entregou um copo de liquido esverdeado de gosto adocicado e enjoativo, mas eu logo sentia todo o mal estar se esvaindo enquanto bebia.

Estiquei-me na cama, tão confortável que quase foi capaz de me fazer esquecer os medos da tarde. Quase.

- Durma com os anjos e sonhe com o Benjamin. Ou ao contrario se preferir. – Ouvi a voz risonha de Brige longe e murmurei um último “cale a boca” antes de cair na inconsciência do sono.

***

Quando acordei estava sozinha no quarto, o relógio no criado-mudo ao lado da cama marcava dez horas e quarenta e cinco minutos. Elas deviam estar no salão do jantar agora.

Levantei-me e fui a direção do banheiro. Eu precisava urgentemente de um banho, deixei a água quente escorrer por todo o me corpo antes de vestir meu jeans e meu tênis.

Como nova. Pensei enquanto secava meus cabelos ondulados.

Quando sai do banheiro minhas três colegas de quarto estavam lá.

- Tudo bem? – Cherrie perguntou enquanto as gêmeas encaravam das suas camas.

- Sim, só com fome. – Sorri indo para a porta.

- Já passou do horário. – Abgail resmungou.

- Eu vou à cozinha. Não vão negar o meu direito de comer já que perdi o jantar. – Dei de ombros.

- Vou com você. – Cherrie levantou.

A iluminação dos corredores era fraca, como sempre ficava depois do toque de recolher.

Pensei na última vez em que havia saído do quarto fora do horário permitido. Havia encontrado Ben, será que o veria de novo?

A última vez. Aquela vez. O diário.

Eu não li o diário. Na verdade, me esqueci do diário.

Eu sou uma completa idiota.

- Gabriela? Oi? – Cherrie estalou os dedos na minha frente, eu havia parado no meio do corredor.

- Ah, o que? – Perguntei voltando a andar.

Ela riu. – Merlin! Você é uma garota apaixonada.

- Cherrie. Não comece. – Sibilei.

- Não precisa admitir, sua cara de tonta faz isso por você.

- Eu não estou apaixonada. – Falei tentando ser séria. – Não gosto do Ben dessa forma.

- Ben? – Ela indagou - Quem foi que mencionou Ben? – ela ressaltou o apelido.

- Ah, cale a boca.

- Gabriela tem um namorado... – Ela cantarolou.

- Quantos anos você tem? Cinco? – Cherrie riu e me deu um soco leve no ombro.

- Psicologicamente, talvez oito. Se fosse cinco eu gritaria. Gabriela apaixonada! – Ela ria e saltitava e eu quase tinha que correr para acompanhar a animação de Cherrie.

- Rá. Engraçado. Agora, cale a boca. – Quantas vezes eu já disse isso hoje?

Cherrie revirou os olhos.

- Você não entra no espírito mesmo, não é? - Ela colocou as mãos na cintura.

- Não. – Reclamei.

- Tudo bem. Amanhã conquisto Brige como aliada.

- O que? Vocês acham isso divertido? Me irritar? – Retorci minhas feições numa careta.

- Achamos. – Ela riu. – Ah, qual é Gabs! Sabe que é só brincadeira.

Eu não pude resistir e acabei rindo.

Mas repentinamente, Cherrie ficou séria. Tão séria que se o rosto não estivesse atento a algo eu poderia jurar que seria outra visão.

- O que...

- Shhh. – Ela agarrou meu pulso e me puxou quase correndo pelo corredor. – Eu posso sentir...

Ela parou e colocou a mão livre na parede. – Medo... Desespero... Por aqui. – Ela voltou a correr e a me arrastar.

Cherrie havia me guiado por um corredor que eu nunca estivera antes e mesmo que os corredores daqui fossem todos parecidos, esse era menor e nessas paredes não havia quadros pendurados, apenas portas de madeira.

- Não, eles não precisam de ajuda...

- Cherrie. Oi, o que?

- Almas cheias de sentimentos atormentados, eu posso senti-las. Aqui. – Ela cochichou enquanto colocava um pé na frente do outro, silenciosamente.

Ela soltou minha mão e levou o dedo aos lábios, mandando-me ficar em silêncio e encostou o ouvido em uma porta de madeira.

Anham. E depois eu sou a mal educada. Belos modos os dela!

Ela agarrou meu pulso e fez minha orelha esquerda ficar colada a porta também.

- Perdemos o contato com Melany e outro selo foi rompido Marek, como você pode pedir calma. Quase ocorreram mortes. – Reconheci a voz exaltada da professora Lory McKenzie.

- A morte dela seria um desperdício para eles, a filha do pecado é única. – Era voz grossa de Marek Giatti

- Precisamos rastrear Melany. E reconstruir os selos. – Essa voz era tão calma e doce que foi difícil entender as palavras abafadas pela porta. Eu não a ouvi com freqüência depois dos primeiros dias de aula, mas só pelo tom de controle eu já sabia que era Abelle de Giry.

- Os representantes precisarão vir. – Marek resmungou.

- Antes que tudo fuja do controle de novo. – Professora McKenzie continuava desesperada. Fadas, sempre tão verdadeiras em seus sentimentos.

- Nada sairá do controle, Lory. Reconstruiremos os selos e não haverá ataque enquanto a proteção se manter. Isso eles aprenderam da última vez. –Abelle assegurou.

- Mas a filha do pecado. Ela não tem culpa de ser o que é, ela precisa ser protegida... – As falas de Marek cessaram. Algo o interrompeu.

- Ah droga. – Escutei um murmúrio de Cherrie que tentou pegar meu pulso e me fazer correr.

Mas era tarde demais.

A porta escancarou-se e revelando a diretora, com sempre vestida distintamente em seus vestidos pretos e seus cabelos castanho-grisalho estavam puxados em uma trança que caia até sua cintura.

- Desejam alguma coisa garotas? – Ela deu dois passos em nossa direção. Apoiada em algo que nunca a vira usar antes, uma bengala de cabo escuro e na ponta, onde sua mão se apoiava, o maior diamante que vi na minha vida.

- Não... só... é... – Cherrie gaguejou.

-Oh sim, aposto que terão uma boa desculpa para estarem fora dos dormitórios a essa hora. Acho que terão de contá-la ao Professor Giatti.

- Eu as acompanho até o dormitório. – Marek surgiu com um sorrisinho tímido.

- Faça isso. – Era quase impossível desviar dos olhos de Abelle, as leves ruguinhas ressaltavam a seriedade de sua expressão.

Mas logo que Marek tomou a nossa frente nos guiando ela voltou para a sala onde estava a professora Lory.

Quanta tensão.

- O que faziam fora dos quartos? – Marek quebrou o silencio que nos acompanhava.

- Nós íamos para a cozinha, Gabriela perdeu o jantar e nós perdemos o caminho.

- Ah. Ainda com fome Gabs?

-Perdi a apetite. – Fiz uma careta e ele riu. Ufa, eu mesma já estava quase sentindo falta das gargalhadas de Marek.

- Senhora de Giry também me dá medo. E até que ela foi simpática com vocês.

- Comparado ao que ouvi, deve ter sido mesmo. – Dei de ombros.

Quem se importaria com alunas fora da cama depois do horário agora. Olha, tem cachorros do inferno lá fora.

- Não abusem da sorte, vão para seus quartos e não saiam de lá. É sério. – Marek parou de frente ao corredor dos dormitórios nos encarando.

Cherrie tomou a frente comigo em seus calcanhares. Podia até sentir a nuca formigando com os olhos claros do professor em cima de nós.

- Você sabe que a algo grande acontecendo aqui, não? – Cherrie cochichou quando já estávamos perto da porta.

- Sei. – Suspirei.

- Isso meio que me assusta. Quer dizer, você sabe o que aconteceu da última vez. Ninguém quer aquilo de novo. – Ela resmungou abrindo a porta do quarto.

Eu concordava com cada palavra.

- será que ele vai ficar no fim do corredor a noite toda? – Ela deu uma risadinha, ainda cochichando agora por respeito ao sono das nossas colegas de quarto.

- Espero que não. Eu... Tenho algo a fazer.

- Ah você não vai... – Dei de ombros e Cherrie revirou os olhos. – Merlin, depois diz que não está apaixonada.

- Não estou.

Cherrie mostrou a língua e se jogou na sua cama.

Eu só conseguia pensar no seu ombro, no seu cansaço, eu queria saber se ele estava bem. Eu precisava vê-lo e sabia onde ele estava.

Acho que eu sempre soube onde ele estava.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Capitulo onze. Confronto.

Você já viu filmes de terror, certo? Então você deve saber a cena em que tudo parece acontecer em câmera lenta, com a mocinha procurando alguém assustada depois de ouvir o barulho do monstro?

É bem assim.

Eu ouvi o farfalhar das folhas ao meu redor e podia até sentir meu corpo formigando com a sensação de estar sendo observada, e ah, o cheiro forte de enxofre que me embrulhava o estômago deixava claro que minha paranoia é bem real.

Aquira relinchou atrás de mim. Quase me esqueci dela, mas a sua volta ao estilo revoltada e seus coices no ar me obrigaram a lembrar.

- Calma... Calma... – Anham. Como se aquela cosia de asas fosse me ouvir...

Tentei agarrar suas rédeas, mas ela era bem mais forte que eu, um cavalo comum seria mais forte que eu, um cavalo alado então... Baque. Meu corpo estava no chão de novo enquanto seus galopes se distanciavam e ela sumia no meio das árvores.

Nunca mais vou voar.

Crash. O som de um galho seco se partindo ecoava as minhas costas, eu podia sentir meu corpo tremer, o cheiro me enjoar. Enxofre e mais forte.

Estava lá.

A câmera lenta dos filmes de terror...

Eu me virei, na verdade o mais hesitante possível. Eu estava com medo, mas nem todo o medo do mundo podia prever que vi quando meus olhos se deparam com aquilo.

Era grande, devia bater na altura do meu peito quando eu estivesse de pé e fui o mais lerda possível em registrar toda aquela imagem, naquelas patas de cachorro haviam garras negras afiadas e curvadas, seus pelos eram uma mescla de cinza e preto, na cara um focinho mostrava vários dentes amarelos e podres e suas costas de aspecto escamoso se entendiam num rabo que mais parecia uma cobre ricocheteando de um lado para o outro, Ra um estranha, e principalmente feia, mistura de cachorro com dragão, de olhos vermelhos. Olhos que não tinham pupilas ou qualquer divisão só o vermelho sangue, olhando para mim.

Engoli em seco.

Um flash das palavras de Cherrie ecoava em minha mente “Gabriela... morte” E então, eu entendi, é agora.

Meus pés se atritavam contra o chão tentando me fazer rastejas de costas. Aquela coisa não parava de me olhar. E eu que achava um lobisomem feio... Crash, a pata monstruosa quebrava os galhos secos, erguendo-se uma após a outra, caminhando, a coisa tem um gosto por teatralidade. Ótimo!

Aquilo vinha e eu ofegava... Me lembrei da minha avó, me lembrei da minha mãe. Eu pensei em como sou estúpida e mimada. Me lembrei de Cherrie, Brige e até mesmo de Benjamin... Eu pensei em como sou triste, eu me lembrei da raiva, eu me lembrei do amor.

E tudo isso em um segundo.

E eu fechei meus olhos enquanto o barulho dos galhos secos se tornava rápido e ritmado. Era o fim. Assim, fácil.

A dor não veio. O fim não veio. Mas outro baque de corpos ecoou acima de mim.

Abri os olhos. A coisa não olhava mais para mim, e seu pescoço sangrava, um liquido escuro escorria e ela encarava o seu novo alvo com a mesma teatralidade com que me encarava antes. O alvo que eu quase não reconheci. Os olhos ainda eram verdes, sim, mas estavam sombrios de um modo que era quase capaz de me causar medo, a boca era retorcida num rosnado onde caninos pontiagudos se mostravam sujos do mesmo liquido escuro que também escorria pelo pescoço pálido. O sangue da coisa estava derramado na boca daquela figura de animal recurvado em que Benjamin se mantinha. Um perfeito vampiro.

Ele cuspia o resto do sangue do bicho como se fosse algo sujo, e parecia mesmo.

Rastejei de novo tentando me manter longe do confronto, mas sem tirar os olhos de todo aquele clima de tensão que quase hipnotizava.

A coisa pulou de novo, ela fedia ainda mais desde que estava sangrando.

Benjamin era rápido, bem rápido. Eu quase não podia acompanhá-lo com a minha visão enquanto ele rodopiava e agarrava o pescoço da coisa num ‘abraço de urso’ violento e a jogava contra uma árvore, que se partiu em duas, e depois puxar outra árvore pela raiz e jogar na mesma direção.

Benjamin correu para perto de mim, limpando rapidamente a boca com o braço.

- Pela direita, há uma estrada. Corra! – Ele agarrou meu pulso, me levantou e me empurrou para o meio da floresta. – O mais rápido que puder. – Sibilou antes de me dar um ultimo empurrão.

Ele me mandava fugir, mas voltou para lá. Sozinho.

Direito, esquerdo, direito, esquerdo... Correr. Eu devo ter dado uns três passos quando parei.

Eu havia sentido medo, sim. Mas nem tanto quando agora, um frio incontrolável subiu por toda minha espinha quando ouvi seu grito.

Seu grito. Distorcido por dor, mas a voz dele.

A voz dele.

Cambaleei em meia volta para retornar a clareira a três passos atrás de mim.

E lá estava o corpo inerte no chão. Do seu ombro uma poça de sangue se formava e os olhos abertos ainda vivos encaravam a coisa, caminhando majestosa e teatralmente para cima dele, até prendê-lo no chão com sua pata de garras encurvadas e agora avermelhadas pelo mesmo sangue que escorria de Benjamin.

- Não... – Os dentes se aproximaram do ferimento... – Não!... –A saliva da coisa escorreu amarela e densa até o arranhão aberto.

Ele gritou.

Ele urrou.

Eu senti meus joelhos bambearem, era quase como se a dor dele pudesse me atingir... Eu precisava fazer alguma coisa.

Pense rápido, Gabriela.

Me ajoelhei tateando por algo que pudesse me ajudar a atingi-lo, minha mãos se depararam com uma pedra. Agir, rápido. E joguei com toda minha força. Acertou uma dos olhos vermelhos da coisa e ela deu atenção a mim deixando o corpo dele no chão, pequenos gemidos doloridos saiam dos lábios de Benjamin.

Já a coisa rosnava.

Mas eu não estava mais sentindo medo, estava com raiva. Ódio na verdade.

- Protiegon! – A coisa ricocheteou na ‘parede invisível’ que criei com a mente. Eu sentia a lápis-lazúli formigar contra meu peito.

E a coisa também ficou com raiva.

- Silente! – Seus lábios, recheados de dentes podres, se colaram um no outro a fazendo quase gemer. Um leve sorriso pretensioso surgiu nos meus lábios.

- Ardeat Inqcendia. – A terra perto dela se tornou brasa, eu lutava para manter o escudo mental do feitiço de proteção a cercando, ela deu leves ruídos que pareciam reclamações, seu lábio colado não a dava mais vocabulário que isso, só que a brasa em seus pés não era o suficiente. E se o calor não incomoda tanto...

-Ardeat inqfringidu. – Chamas brancas surgiram do chão, envolvendo a coisa, eu manipulava o fogo frio para que ele a atingisse.

Quebrei o campo mental e apenas continuei formando ondas de chamas dançantes e brancas que iam de encontro com a coisa,a Lapís-Lazuli quase queimava contra mim agora, sem diminuir as chamas, gritei Protiegon novamente e um novo campo de proteção foi na direção da coisa a empurrando sem que eu perdesse o controle do fogo frio que a cercava.

A coisa, sangrando pelo machucado feito por Benjamin me olhava com uma expressão que eu reconhecia bem , a expressão de ódio.

Eu investi as chamas contra ela novamente, não havia saída pra ela agora, a coisa cambaleou e rosnou se debateu até as arvores.

E sumiu.

Sumiu da minha visão e do meu olfato, o cheiro de enxofre diminuía cada vez mais.

Eu consegui. Consegui! Nem eu mesma acreditava. Olhei ao redor, busquei pelo cheiro. Nada. A coisa foi embora. Eu consegui!

Um gemido fraco tirou toda minha alegria momentânea.

- Benjamin! – Me voltei para ele e corri até me jogar de joelhos ao seu lado.

- Benjamin, não! – Coloquei uma das minhas mãos como um travesseiro para sua cabeça, no ombro direito quatro rasgões mostravam sua carne, o sangue vermelho escorria enquanto o pescoço ainda continuava manchado pelo sangue escuro da coisa, a regata branca totalmente rasgada só davas mais ênfase nos cortes profundos que ocupavam do fim do músculo do seu pescoço até seu ombro. Estava horrível.

- Gabriela... – Ele murmurou de olhos fechados. – Porque não correu?

- Shhh, está tudo bem. Tudo bem, a coisa foi embora.

- Cerberus...

- O que?

- Era um cerberus... Um filhote deles.

- Filhote? Ah claro, era tão fofo! Como não percebi? – Ironizei.

Ele mordeu o próprio lábio e apertou os olhos, evitando gritar.

- Shh. Vou levar você pra escola, você vai ficar bem, seu corpo vai curar o arranhão sozinho, vampiros têm essa vantagem não? – Tentei dar um sorriso fraco. – Vai ficar tudo bem.

- Não... O problema... é o veneno. - Ele precisava de uma pausa a cada palavra, seu rosto estava suado e cansado de um modo que me dava agonia.

- Veneno? – Eu tive de lutar contra meu desespero, por baixo das manchas de sangue e envolta dos cortes - que já eram feios o bastante – A pele pálida de Benjamin escondia veias saltadas e totalmente pretas. Um flash do filhote de cerberus deixando sua saliva escorrer em seu machucado me veio a mente.

- Nós só temos de voltar logo, vão arrumar um antídoto para você... Benjamin... – Agarrei meu colar e em concentrei em seu corpo, em sua dor.

- Curatte. – Murmurei.

- Não... Adianta. – Ele tossiu fraco. – Eu vou...

- Tem de adiantar. Eu não vou deixar que algo mais aconteça com você por minha culpa. -

Mas ele estava certo, o feitiço podia curar o machucado, mas não estava fazendo efeito nenhum sobre o veneno.

E não havia tempo para levá-lo para a escola.

- O que eu faço? Benjamin, que eu faço?

- Vá embora... Ele pode voltar...

- O que eu faço para ajudar você. – Reformulei. Ótima hora para ele querer dar uma de herói!

Benjamin apertou os olhos de novo e deu uma espécie de tossido antes de morder seu próprio lábio novamente. Aquilo devia estar doendo feito um diabo.

Sua respiração estava pesada e ele não falava mais, ele não podia morrer, droga, vampiros são imortais!

Meus olhos penderam para a poça de sangue abaixo de seu ombro.

Eu sou uma idiota. Vampiros são imortais... Enquanto mantêm sua “dieta regular”.

- Beba. –Aproximei meu pulso de seus lábios. Ele apenas resmungou desviando.

- Benjamin, me morda! – Reclamei.

- Não vou... machucar... você...

- E eu não vou deixar você morrer. Me morda Benjamin... - Aproximei meu rosto do seu ouvido. – Eu estou pedindo. Eu quero que você me morda, por favor... – Implorei aos sussurros

Não me importava se eu havia dito que desejava isso a ele, menos ainda que ele houvesse me mandado ir para o inferno, não importava que ele me evitasse, nem que ele fugisse ou que ele me odiasse. Eu não o deixaria morrer, nem que isso custasse a minha própria vida, e mesmo eu tão arrogante e egoísta, jamais havia sentido tanta verdade em um pensamento.

Seus dedos percorram meu braço até segurar meu pulso fracamente, ele suspirou e... Atendeu meu pedido.

Primeiro eu pude sentir pontadas de dor enquanto seus dentes perfuravam meu pulso, mas logo a sensação de meu sangue caminhando para a sua garganta se tornou... Prazerosa.

As veias saltadas e escuras dele começavam a voltar ao normal, até mesmo a carne que pulava para fora dos seus cortes começava a se fechar para dentro da pele de novo.

Ele podia resistir... Eu sentia que podia... E ele iria.

Mas eu comecei a ficar tonta...

- Benjamin... – Murmurei.

Ele soltou meu pulso ofegando.

Também respirei fundo, e pisquei os olhos varias vezes para colocar as ideias no lugar.

- Eu tirei demais, você está bem? – Ele perguntou ainda deitando e de olhos fechados, mas sem dificuldades na fala, para meu alivio.

- Eu estou bem. E você?

- Agora estou. – Ele puxou o ar e se levantou para ficar sentando de frente para mim.

Os quatro cortes ainda estavam abertos, mas o sangramento era quase nulo.

Ele estava se curando.

- O veneno do cerberus... – Comecei. A formular alguma pergunta... Benjamin puxou o resto da regata branca a rasgando completamente do seu corpo, na parte onde o tecido estava limpo rasgou uma faixa e amarrou no meu pulso.

- É o melhor remédio para alguém como eu... – Ele sorriu fraco. – Vou ficar bem. – O rosto cansado e suado não mostrava mais sinais de dor. Ele mexeu seu braço de ombro machucado, testando todas as suas movimentações. – Inteiro. – Concluiu mais para si mesmo.

Eu deixei de pensar, atirei meus braços em volta do seu pescoço e o abracei.

- Obrigada, Ben, você salvou a minha vida. Obrigada.

- Do que você me chamou?

O soltei quase como se ele tivesse me dado um choque elétrico, o que não foi boa ideia, já que agora ele podia ver bem o meu rosto que devia estar queimando de vergonha.

- Ben... desculpe, se você não gosta, é que só... – Comecei a me justificar, mas perdi as palavras quando seus dedos foram para o meu queixo, fazendo meus olhos baixos e cheios de vergonha ficarem na mesma altura dos seus.

- Eu gosto, faz muito tempo desde alguém pessoa que em chamou assim. –Ele deu de ombros. – Mas eu gosto, na sua voz, eu gosto. E você salvou a minha vida depois, estamos quites. – Ele deu outro sorriso fraco.

- Você está mesmo bem? – Perguntei de novo.

- Vou ficar. Mas precisamos ir embora, agora. – Ele se levantou um pouco lerdo me segurando pela mão. – O filhote pode voltar com a família.

- Cerberus... - Murmurei... Na mitologia grega é o...

- Cão que guarda a porta do inferno. – Ele completou.

- Ele não devia ter três cabeças? - Perguntei.

- Você não deveria misturar sapos com aranhas num caldeirão? – Ele rebateu, entrelaçando seus dedos nos meus. Eu quase perdi toda a atenção no que ele falava. – Precisamos achar a trilha para sair daqui, antes que outros resolvam entrar na floresta para te procurar, nenhum lugar perto daqui é seguro. – Ele se enfiou no meio das árvores primeiro, abrindo caminho para mim, mas ainda lerdo demais, ele estava cansado. Seu corpo estava esgotado. Também pudera, depois de ter de lutar contra veneno de cerberus.

- Ben... – Chamei. – Se cerberus são cães o inferno, o que estão fazendo numa floresta perto de uma escola?

- Eu não sei. – Ele respondeu e virou seu rosto para mim. – Na última vez em que um esteve na superfície... foi há dez anos. – Ele suspirou.

- Você acha que...

- Eu não sei. – Ele sentenciou apertando minha mão.

Uma breve pausa silenciosa se estendeu enquanto ele me guiava para mais alguns passos, quando percebi já podia ver uma pequena trilha.

- Suas amigas estão perto. – Ele resmungou.

- O que...

- Gabriela! – Reconheci um grito distante na voz de Cherrie.

Benjamin me puxou até a trilha.

- Cherrie! – Respondi.

Logo a figura oriental apareceu no meio de tantas folhas, acompanhada de um unicórnio e de um cachorro sabujo de cor vermelho vibrante que começou a abanar o rabo correndo na minha direção.

- Oi, Brige! – Sorri enquanto o cachorro vermelho saltitava.

- Gabriela, você está bem... Minha santa Glinda do norte! – Ela exclamou quando colocou os olhos no ombro direito de Ben. – O que aconteceu?

Brige reforçou o espanto com um latido. Se estavam assustadas agora deviam ter visto a minutos atrás, eu quase nem podia mais ver a carne pelos cortes dele.

- Longa história. – Conclui. – Precisamos voltar para a escola e rápido.

- Anham. Marek está procurando por você também, mesmo com todo o seu “Está tudo bem, e não se atrevam a se afastarem muito do campus da escola, crianças” ele parecia meio lunático, quer dizer mais que o normal. – Cherrie contava enquanto caminhávamos pela trilha, passaram-se uns dez minutos em uma caminhada rápida até encontrar os gramados da escola. Os quais me pareceram uma eternidade, eu queria fazer todos ali correr, afinal os cerberus podiam voltar. Mas tudo ao redor estava tão calmo.

E o fato da mão de Bem que continuava segurando a minha era o bastante para me distrair por todo o caminho.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Capitulo dez: Aquira

Pensei que minha mãe queria me fundir no seu corpo enquanto ela me abraçava. Sério.

- Você vai me contar tudo, garota, tudo!

Bem. Eu também tenho de admitir que estava morrendo de saudades da minha mãe. Ok, fazia só uma semana que eu não a via, mas ela é minha mãe, vulgo melhor amiga e vulgo, a pessoa mais importante da minha vida.

Então eu contei sobre Cherrie, minha nova amiga meio japonesa e colega de quarto. – nada da parte mediúnica – contei sobre Brige, minha outra amiga metamorfa e desastrada. – o único nome com B mencionado. – Contei das aulas. – Mesmo que eu quase não me lembrasse dos nomes do professores.

Há. Mais dum dos nomes que eu me lembrava ela interessou.

- Então Marek é seu professor! Ah, ele é ótimo Gabriela! Tanto tempo que eu não vejo. Mande minhas lembranças... Ah o que eu estou dizendo, ele mal deve se lembrar de mim.

- Na verdade, ele se lembra. Muito bem se quer saber, Andy! – Minha mãe corou quando eu usei o apelido.

- Ah ele se lembra. –Ah, por favor. Quero continuar acreditando que esses linhos castanhos brilhando são por minha causa. – Então, diga que mandei lembranças. Ah tanto tempo que não o vejo...

Ah, droga.

- Tudo bem, eu lavo a louça. – Me levantei puxando os pratos do lanche para a pia da cozinha.

- As eu senti sua fala! – Mamãe sorriu e eu ri. – E esse domingo você é só minha, e do meu amor maternal! Eu aluguei alguns filmes!

- Ah, por favor, diga que não é Richard Gere.

- Também tenho Patrick Swayze!

- Deixe-me adivinhar. Ghost?

- Exatamente! – Mamãe sorriu vitoriosa enquanto encostava ao meu lado. – “Oh my love, my darling I've hungered for your touch... – Ela cantava feliz.

- Tudo bem. Patrick na sua época viva e bonita então. – Mamãe estava dando a minha risada preferida agora, do tipo de garota-convidada-para-o-baile dos filmes adolescentes. Isso era tão Andrea!

- Eu amo você, agora ande logo com isso. Eu vou buscar sorvete. – Ela deu um beijo estalado na minha bochecha e saio cantando feliz.

-A long lonely time time goes by so slowly and time can do so much. Are you still mine? I need your love… - E a sua voz se afastou.

Mamãe é mesmo uma figura. Sorte de Marek Giatti.

Aaah, eca. Meu professor e minha mãe. Deus queira que eu esteja imaginando coisas.

***

- Finalmente vocês voltaram! – Cherrie saltitava no portão.

Brige caminhava ao meu lado, contando alegre como fora seus dois dias brincando com a irmã mais nova, o pai e a mãe. Nós nos encontramos nas filas que se formavam na volta dos portais mágicos. Eram cinco da tarde do domingo.

Sair no sábado e voltar no domingo era um tanto trabalhoso.

- Juro que se ouvir mais uma briga de Lucy com Brad, eu vou enlouquecer. Enlouquecer estou dizendo!

- Também senti sua falta Cherrie. – Brige respondeu com um soquinho no braço e uma careta presunçosa.

Lá vamos nós.

Como as Osírio não haviam voltando ainda, Brige continuava tagarelando sobre sua família, insistindo para que um dia fossemos conhecê-las.

- Mamãe adorou saber de vocês, ela disse para chamá-las para um fim de semana a estilo Van der Well. Então, vocês estão convocadas...

- Sim Brige, seria ótimo.

Então, o domingo passou.

Como a segunda, a terça.

E o resto da semana.

E a outra segunda. Terça.

É, o instituto não é tão ruim quando você pega o ritmo das coisas, quer dizer, eu já sei até o nome dos meus professores.

Eu tinha aula de Técnica em duelo com Marek Giatti terceiro, dãã! Fluência com o professor Ferdinando Maloes, Astronomia com Amira Leslies. Magia antiga com Jean Laurence, línguas humanas com Lexi Konisberg, Habitações com George Sampaio, Criaturas e espécies com Robin Campbell e preparação corporal com Lory McKenzie, Vicente Perôn e temporariamente, Marek novamente.

Creio que não esqueci nenhum.

E bem, quando eu vi Benjamin nesse tempo? Vi sua nuca em duas aulas de preparação corporal. É, a nuca... Andando, andando, andando. Puuf, sumiu.

E quem liga?

Quer dizer, ele estava me evitando ainda, isso era bem visível. Mas o idiota infantil com mania de perseguição aqui era ele. Ta, talvez a parte da mania de perseguição deva-se o fato de que eu tenho um leve interesse em persegui-lo.

Não exatamente isso, bom... Argh. Quem liga para Benjamin Bertrand?

Eu já disse que eu não.

***

Era a tarde de uma sexta feira.

Tínhamos aula de preparação corporal. E a professora Novaes não havia voltando. O que resulta nas brilhantes idéias de Marek, como unir todos para uma aula de montaria. Anham, com direito aos unicórnios e aos cavalos alados. E eu nunca montei nem em um cavalo normal, obrigada.

Ao menos eu poderia ver outra parte de Benjamin, que não fosse a nuca sumindo para outro campo onde eu não estivesse.

Mas mesmo assim ele continuava andando.

Andando, andando, andando.

Ignorando, ignorando, ignorando.

Idiota.

- Gabriela! – Cherrie chamou. – Você vai ficar encarando o estábulo ou vai fazer algo? – Ela pegou meu pulso.

A professora McKenzie apareceu seguida por um unicórnio. Dois. Três. Quatro. E cavalos alados. Vários.

Ah, eles eram tão lindos... Os cavalos alados, bem, eram cavalos com asas! Os mais bonitos eram os unicórnios, cavalos brancos que brilhavam, realmente brilhavam, com seu único chifre em espiral.

- Escolham um, crianças. – Marek falou pegando a rédea de um cavalo alado acinzentado de crina negra

- O alado branco é meu. – Cherrie resmungou saltitando para frente do estábulo, onde os professores traziam os cavalos.

- Vou pegar um unicórnio. Desastrados não devem tentar voar. – Brige riu seguindo-a.

Eu as imitei, embora pensando seriamente em que diabos fazer pra consegui subir num bicho desses.

- Algum problema Gabriela? – Cherrie subiu no cavalo alado tão graciosamente que fez parecer fácil.

Talvez com um unicórnio fosse fácil, quer dizer, eles são doces, calmos, delicados e bla bla bla por natureza.

- Eu não sei exatamente... Como fazer isso.

- Montar? – Brige apareceu em seu unicórnio

- É.

- Exatamente pra isso que existem professores. – Marek cutucou meu ombro. – Podem ir meninas. Lory quer passar a teoria enquanto vocês andam. – Ele deu uma piscadela.

- Bom. – Cherrie saiu mais rápido que Brige.

- Tudo bem. Suba. – Ele puxou a rédea do cavalo alado acinzentado.

- Você não acha melhor tentar com alguma coisa que não voe primeiro.

- Você está vendo outro cavalo disponível? – Ele me olhou com um sorriso desafiador.

Olhei ao redor.

- Não.

- Suba. – Ele sorriu.

Aproximei-me do cavalo alado.

- Com calma garota. Quer assustá-lo? Muito bem, coloque o pé no estribo e pegue o impulso... EI! Cuidado com as asas!

- Eu estou tomando cuidado. – Respondi ríspida.

- Segure. – Marek me empurrou pela cintura e eu me impulsionei para cima. – Ótimo. Agora mantenha Aquira no chão e sobrevivera. – Ele sorriu, mas ainda segurava as rédeas. – Então, tem visto sua mãe?

Oh. Ele realmente estava me perguntando sobre minha mãe?

- Sim.

- Ela está bem?

-Perfeitamente.

- Ah. Diga que eu mandei lembranças...

- Marek! Acho que precisamos de você aqui. – Professora Lory surgiu graciosa em seu unicórnio, inclinando a cabeça delicadamente para Jazz Sommers se exibindo fazendo algum tipo de drama apontando para o cabelo despenteado. A professora revirou os olhos.

Marek riu.

- Hey Benjamin. Será professor por um dia hoje. – Marek chamou apontando com um polegar para mim.

Calma. Ele disse Benjamin?

- Vejo você depois Gabs. – Marek mal soltou as rédeas e um par de mãos pálidas as segurou.

Ah droga.

- Eu estou bem. Posso fazer isso sozinha. – Puxei as rédeas para mim.

Benjamin Bertrand me olhou feio.

-Tudo bem, você não precisa dar uma de durona por causa das nossas... Diferenças.

Puxei as rédeas de novo. Mas ele não soltou.

- Você não sabe montar, vai se machucar.

- Quem disse que eu não sei montar?

- Você. Eu ouvi.

- Perfeitamente educado de a sua parte ouvir conversas alheias, Benjamin.

- Não tenho culpa, ouvidos de vampiro lembra? Posso ouvir até seu coração batendo... Ele está mais rápido do que a maioria aqui.

- Cale a boca. – Resmunguei na mesma hora em que minhas bochechas queimavam. Idiota, idiota, idiota! Irritante, convencido...

- E eu acho que devo um pedido de desculpas a você. – Estúpido e...

- Desculpas?

- É.

- Ótimo. Agora, me deixe em paz. –Puxei as rédeas de novo dessa vez ele a soltou.

- Gabriela, será que você pode...

Não ouvi o resto da frase.

Não ouvi porque comecei a sacudir as rédeas do cavalo, e esse começou a relinchar. E a pular. E a voar.

E eu comecei a gritar.

O barulho das asas batendo era imenso, também pudera, aquelas coisas abertas eram umas dez vezes maior do que aparentavam.

Eu me agarrei com força às rédeas que ardiam em minha mão enquanto o vento forte me fez fechar os olhos, eu colidia pateticamente contra Aquira, uma égua alada diabólica.

Eu havia perdido minha noção de local, na verdade, eu havia perdido toda a noção enquanto me segurava para não me espatifar no chão, que sabe se lá a quantos metros de distancia estava.

Ela ainda voava, sem direção enquanto a ventania quase parecia querer me separar do cavalo, e que se não fosse a ventania eu estaria chorando como um bebê pela dor em minhas mãos que se ralavam tentando segurar em qualquer parte da égua. E ela começou a descer, finalmente. Para baixo, para baixo, para baixo...

A senti vibrar quando seus cascos tocaram o chão, ela relinchava dava coices no ar. Minhas mãos cederam e próxima coisa que senti foi meu corpo contra o chão. E a dor.

Me levantei com dificuldade, minhas mãos ardiam e estavam com vergões verticais. E as minhas costas me matavam. Isso deve ser graças a queda.

Olhei ao redor. Parecia uma pequena campina, logo depois as arvores a cerca de maneira intensa.

- Onde é que você nos trouxe ein? – Perguntei retoricamente a Aquira, que agora estava calma. Ah, ótimo.

Eu não via nenhum sinal de civilização, ou ouvia vozes.

Mas eu sentia. Algo com uma estranha sensação de estar sendo observada.

E um cheiro... De enxofre.