terça-feira, 16 de novembro de 2010

Capitulo onze. Confronto.

Você já viu filmes de terror, certo? Então você deve saber a cena em que tudo parece acontecer em câmera lenta, com a mocinha procurando alguém assustada depois de ouvir o barulho do monstro?

É bem assim.

Eu ouvi o farfalhar das folhas ao meu redor e podia até sentir meu corpo formigando com a sensação de estar sendo observada, e ah, o cheiro forte de enxofre que me embrulhava o estômago deixava claro que minha paranoia é bem real.

Aquira relinchou atrás de mim. Quase me esqueci dela, mas a sua volta ao estilo revoltada e seus coices no ar me obrigaram a lembrar.

- Calma... Calma... – Anham. Como se aquela cosia de asas fosse me ouvir...

Tentei agarrar suas rédeas, mas ela era bem mais forte que eu, um cavalo comum seria mais forte que eu, um cavalo alado então... Baque. Meu corpo estava no chão de novo enquanto seus galopes se distanciavam e ela sumia no meio das árvores.

Nunca mais vou voar.

Crash. O som de um galho seco se partindo ecoava as minhas costas, eu podia sentir meu corpo tremer, o cheiro me enjoar. Enxofre e mais forte.

Estava lá.

A câmera lenta dos filmes de terror...

Eu me virei, na verdade o mais hesitante possível. Eu estava com medo, mas nem todo o medo do mundo podia prever que vi quando meus olhos se deparam com aquilo.

Era grande, devia bater na altura do meu peito quando eu estivesse de pé e fui o mais lerda possível em registrar toda aquela imagem, naquelas patas de cachorro haviam garras negras afiadas e curvadas, seus pelos eram uma mescla de cinza e preto, na cara um focinho mostrava vários dentes amarelos e podres e suas costas de aspecto escamoso se entendiam num rabo que mais parecia uma cobre ricocheteando de um lado para o outro, Ra um estranha, e principalmente feia, mistura de cachorro com dragão, de olhos vermelhos. Olhos que não tinham pupilas ou qualquer divisão só o vermelho sangue, olhando para mim.

Engoli em seco.

Um flash das palavras de Cherrie ecoava em minha mente “Gabriela... morte” E então, eu entendi, é agora.

Meus pés se atritavam contra o chão tentando me fazer rastejas de costas. Aquela coisa não parava de me olhar. E eu que achava um lobisomem feio... Crash, a pata monstruosa quebrava os galhos secos, erguendo-se uma após a outra, caminhando, a coisa tem um gosto por teatralidade. Ótimo!

Aquilo vinha e eu ofegava... Me lembrei da minha avó, me lembrei da minha mãe. Eu pensei em como sou estúpida e mimada. Me lembrei de Cherrie, Brige e até mesmo de Benjamin... Eu pensei em como sou triste, eu me lembrei da raiva, eu me lembrei do amor.

E tudo isso em um segundo.

E eu fechei meus olhos enquanto o barulho dos galhos secos se tornava rápido e ritmado. Era o fim. Assim, fácil.

A dor não veio. O fim não veio. Mas outro baque de corpos ecoou acima de mim.

Abri os olhos. A coisa não olhava mais para mim, e seu pescoço sangrava, um liquido escuro escorria e ela encarava o seu novo alvo com a mesma teatralidade com que me encarava antes. O alvo que eu quase não reconheci. Os olhos ainda eram verdes, sim, mas estavam sombrios de um modo que era quase capaz de me causar medo, a boca era retorcida num rosnado onde caninos pontiagudos se mostravam sujos do mesmo liquido escuro que também escorria pelo pescoço pálido. O sangue da coisa estava derramado na boca daquela figura de animal recurvado em que Benjamin se mantinha. Um perfeito vampiro.

Ele cuspia o resto do sangue do bicho como se fosse algo sujo, e parecia mesmo.

Rastejei de novo tentando me manter longe do confronto, mas sem tirar os olhos de todo aquele clima de tensão que quase hipnotizava.

A coisa pulou de novo, ela fedia ainda mais desde que estava sangrando.

Benjamin era rápido, bem rápido. Eu quase não podia acompanhá-lo com a minha visão enquanto ele rodopiava e agarrava o pescoço da coisa num ‘abraço de urso’ violento e a jogava contra uma árvore, que se partiu em duas, e depois puxar outra árvore pela raiz e jogar na mesma direção.

Benjamin correu para perto de mim, limpando rapidamente a boca com o braço.

- Pela direita, há uma estrada. Corra! – Ele agarrou meu pulso, me levantou e me empurrou para o meio da floresta. – O mais rápido que puder. – Sibilou antes de me dar um ultimo empurrão.

Ele me mandava fugir, mas voltou para lá. Sozinho.

Direito, esquerdo, direito, esquerdo... Correr. Eu devo ter dado uns três passos quando parei.

Eu havia sentido medo, sim. Mas nem tanto quando agora, um frio incontrolável subiu por toda minha espinha quando ouvi seu grito.

Seu grito. Distorcido por dor, mas a voz dele.

A voz dele.

Cambaleei em meia volta para retornar a clareira a três passos atrás de mim.

E lá estava o corpo inerte no chão. Do seu ombro uma poça de sangue se formava e os olhos abertos ainda vivos encaravam a coisa, caminhando majestosa e teatralmente para cima dele, até prendê-lo no chão com sua pata de garras encurvadas e agora avermelhadas pelo mesmo sangue que escorria de Benjamin.

- Não... – Os dentes se aproximaram do ferimento... – Não!... –A saliva da coisa escorreu amarela e densa até o arranhão aberto.

Ele gritou.

Ele urrou.

Eu senti meus joelhos bambearem, era quase como se a dor dele pudesse me atingir... Eu precisava fazer alguma coisa.

Pense rápido, Gabriela.

Me ajoelhei tateando por algo que pudesse me ajudar a atingi-lo, minha mãos se depararam com uma pedra. Agir, rápido. E joguei com toda minha força. Acertou uma dos olhos vermelhos da coisa e ela deu atenção a mim deixando o corpo dele no chão, pequenos gemidos doloridos saiam dos lábios de Benjamin.

Já a coisa rosnava.

Mas eu não estava mais sentindo medo, estava com raiva. Ódio na verdade.

- Protiegon! – A coisa ricocheteou na ‘parede invisível’ que criei com a mente. Eu sentia a lápis-lazúli formigar contra meu peito.

E a coisa também ficou com raiva.

- Silente! – Seus lábios, recheados de dentes podres, se colaram um no outro a fazendo quase gemer. Um leve sorriso pretensioso surgiu nos meus lábios.

- Ardeat Inqcendia. – A terra perto dela se tornou brasa, eu lutava para manter o escudo mental do feitiço de proteção a cercando, ela deu leves ruídos que pareciam reclamações, seu lábio colado não a dava mais vocabulário que isso, só que a brasa em seus pés não era o suficiente. E se o calor não incomoda tanto...

-Ardeat inqfringidu. – Chamas brancas surgiram do chão, envolvendo a coisa, eu manipulava o fogo frio para que ele a atingisse.

Quebrei o campo mental e apenas continuei formando ondas de chamas dançantes e brancas que iam de encontro com a coisa,a Lapís-Lazuli quase queimava contra mim agora, sem diminuir as chamas, gritei Protiegon novamente e um novo campo de proteção foi na direção da coisa a empurrando sem que eu perdesse o controle do fogo frio que a cercava.

A coisa, sangrando pelo machucado feito por Benjamin me olhava com uma expressão que eu reconhecia bem , a expressão de ódio.

Eu investi as chamas contra ela novamente, não havia saída pra ela agora, a coisa cambaleou e rosnou se debateu até as arvores.

E sumiu.

Sumiu da minha visão e do meu olfato, o cheiro de enxofre diminuía cada vez mais.

Eu consegui. Consegui! Nem eu mesma acreditava. Olhei ao redor, busquei pelo cheiro. Nada. A coisa foi embora. Eu consegui!

Um gemido fraco tirou toda minha alegria momentânea.

- Benjamin! – Me voltei para ele e corri até me jogar de joelhos ao seu lado.

- Benjamin, não! – Coloquei uma das minhas mãos como um travesseiro para sua cabeça, no ombro direito quatro rasgões mostravam sua carne, o sangue vermelho escorria enquanto o pescoço ainda continuava manchado pelo sangue escuro da coisa, a regata branca totalmente rasgada só davas mais ênfase nos cortes profundos que ocupavam do fim do músculo do seu pescoço até seu ombro. Estava horrível.

- Gabriela... – Ele murmurou de olhos fechados. – Porque não correu?

- Shhh, está tudo bem. Tudo bem, a coisa foi embora.

- Cerberus...

- O que?

- Era um cerberus... Um filhote deles.

- Filhote? Ah claro, era tão fofo! Como não percebi? – Ironizei.

Ele mordeu o próprio lábio e apertou os olhos, evitando gritar.

- Shh. Vou levar você pra escola, você vai ficar bem, seu corpo vai curar o arranhão sozinho, vampiros têm essa vantagem não? – Tentei dar um sorriso fraco. – Vai ficar tudo bem.

- Não... O problema... é o veneno. - Ele precisava de uma pausa a cada palavra, seu rosto estava suado e cansado de um modo que me dava agonia.

- Veneno? – Eu tive de lutar contra meu desespero, por baixo das manchas de sangue e envolta dos cortes - que já eram feios o bastante – A pele pálida de Benjamin escondia veias saltadas e totalmente pretas. Um flash do filhote de cerberus deixando sua saliva escorrer em seu machucado me veio a mente.

- Nós só temos de voltar logo, vão arrumar um antídoto para você... Benjamin... – Agarrei meu colar e em concentrei em seu corpo, em sua dor.

- Curatte. – Murmurei.

- Não... Adianta. – Ele tossiu fraco. – Eu vou...

- Tem de adiantar. Eu não vou deixar que algo mais aconteça com você por minha culpa. -

Mas ele estava certo, o feitiço podia curar o machucado, mas não estava fazendo efeito nenhum sobre o veneno.

E não havia tempo para levá-lo para a escola.

- O que eu faço? Benjamin, que eu faço?

- Vá embora... Ele pode voltar...

- O que eu faço para ajudar você. – Reformulei. Ótima hora para ele querer dar uma de herói!

Benjamin apertou os olhos de novo e deu uma espécie de tossido antes de morder seu próprio lábio novamente. Aquilo devia estar doendo feito um diabo.

Sua respiração estava pesada e ele não falava mais, ele não podia morrer, droga, vampiros são imortais!

Meus olhos penderam para a poça de sangue abaixo de seu ombro.

Eu sou uma idiota. Vampiros são imortais... Enquanto mantêm sua “dieta regular”.

- Beba. –Aproximei meu pulso de seus lábios. Ele apenas resmungou desviando.

- Benjamin, me morda! – Reclamei.

- Não vou... machucar... você...

- E eu não vou deixar você morrer. Me morda Benjamin... - Aproximei meu rosto do seu ouvido. – Eu estou pedindo. Eu quero que você me morda, por favor... – Implorei aos sussurros

Não me importava se eu havia dito que desejava isso a ele, menos ainda que ele houvesse me mandado ir para o inferno, não importava que ele me evitasse, nem que ele fugisse ou que ele me odiasse. Eu não o deixaria morrer, nem que isso custasse a minha própria vida, e mesmo eu tão arrogante e egoísta, jamais havia sentido tanta verdade em um pensamento.

Seus dedos percorram meu braço até segurar meu pulso fracamente, ele suspirou e... Atendeu meu pedido.

Primeiro eu pude sentir pontadas de dor enquanto seus dentes perfuravam meu pulso, mas logo a sensação de meu sangue caminhando para a sua garganta se tornou... Prazerosa.

As veias saltadas e escuras dele começavam a voltar ao normal, até mesmo a carne que pulava para fora dos seus cortes começava a se fechar para dentro da pele de novo.

Ele podia resistir... Eu sentia que podia... E ele iria.

Mas eu comecei a ficar tonta...

- Benjamin... – Murmurei.

Ele soltou meu pulso ofegando.

Também respirei fundo, e pisquei os olhos varias vezes para colocar as ideias no lugar.

- Eu tirei demais, você está bem? – Ele perguntou ainda deitando e de olhos fechados, mas sem dificuldades na fala, para meu alivio.

- Eu estou bem. E você?

- Agora estou. – Ele puxou o ar e se levantou para ficar sentando de frente para mim.

Os quatro cortes ainda estavam abertos, mas o sangramento era quase nulo.

Ele estava se curando.

- O veneno do cerberus... – Comecei. A formular alguma pergunta... Benjamin puxou o resto da regata branca a rasgando completamente do seu corpo, na parte onde o tecido estava limpo rasgou uma faixa e amarrou no meu pulso.

- É o melhor remédio para alguém como eu... – Ele sorriu fraco. – Vou ficar bem. – O rosto cansado e suado não mostrava mais sinais de dor. Ele mexeu seu braço de ombro machucado, testando todas as suas movimentações. – Inteiro. – Concluiu mais para si mesmo.

Eu deixei de pensar, atirei meus braços em volta do seu pescoço e o abracei.

- Obrigada, Ben, você salvou a minha vida. Obrigada.

- Do que você me chamou?

O soltei quase como se ele tivesse me dado um choque elétrico, o que não foi boa ideia, já que agora ele podia ver bem o meu rosto que devia estar queimando de vergonha.

- Ben... desculpe, se você não gosta, é que só... – Comecei a me justificar, mas perdi as palavras quando seus dedos foram para o meu queixo, fazendo meus olhos baixos e cheios de vergonha ficarem na mesma altura dos seus.

- Eu gosto, faz muito tempo desde alguém pessoa que em chamou assim. –Ele deu de ombros. – Mas eu gosto, na sua voz, eu gosto. E você salvou a minha vida depois, estamos quites. – Ele deu outro sorriso fraco.

- Você está mesmo bem? – Perguntei de novo.

- Vou ficar. Mas precisamos ir embora, agora. – Ele se levantou um pouco lerdo me segurando pela mão. – O filhote pode voltar com a família.

- Cerberus... - Murmurei... Na mitologia grega é o...

- Cão que guarda a porta do inferno. – Ele completou.

- Ele não devia ter três cabeças? - Perguntei.

- Você não deveria misturar sapos com aranhas num caldeirão? – Ele rebateu, entrelaçando seus dedos nos meus. Eu quase perdi toda a atenção no que ele falava. – Precisamos achar a trilha para sair daqui, antes que outros resolvam entrar na floresta para te procurar, nenhum lugar perto daqui é seguro. – Ele se enfiou no meio das árvores primeiro, abrindo caminho para mim, mas ainda lerdo demais, ele estava cansado. Seu corpo estava esgotado. Também pudera, depois de ter de lutar contra veneno de cerberus.

- Ben... – Chamei. – Se cerberus são cães o inferno, o que estão fazendo numa floresta perto de uma escola?

- Eu não sei. – Ele respondeu e virou seu rosto para mim. – Na última vez em que um esteve na superfície... foi há dez anos. – Ele suspirou.

- Você acha que...

- Eu não sei. – Ele sentenciou apertando minha mão.

Uma breve pausa silenciosa se estendeu enquanto ele me guiava para mais alguns passos, quando percebi já podia ver uma pequena trilha.

- Suas amigas estão perto. – Ele resmungou.

- O que...

- Gabriela! – Reconheci um grito distante na voz de Cherrie.

Benjamin me puxou até a trilha.

- Cherrie! – Respondi.

Logo a figura oriental apareceu no meio de tantas folhas, acompanhada de um unicórnio e de um cachorro sabujo de cor vermelho vibrante que começou a abanar o rabo correndo na minha direção.

- Oi, Brige! – Sorri enquanto o cachorro vermelho saltitava.

- Gabriela, você está bem... Minha santa Glinda do norte! – Ela exclamou quando colocou os olhos no ombro direito de Ben. – O que aconteceu?

Brige reforçou o espanto com um latido. Se estavam assustadas agora deviam ter visto a minutos atrás, eu quase nem podia mais ver a carne pelos cortes dele.

- Longa história. – Conclui. – Precisamos voltar para a escola e rápido.

- Anham. Marek está procurando por você também, mesmo com todo o seu “Está tudo bem, e não se atrevam a se afastarem muito do campus da escola, crianças” ele parecia meio lunático, quer dizer mais que o normal. – Cherrie contava enquanto caminhávamos pela trilha, passaram-se uns dez minutos em uma caminhada rápida até encontrar os gramados da escola. Os quais me pareceram uma eternidade, eu queria fazer todos ali correr, afinal os cerberus podiam voltar. Mas tudo ao redor estava tão calmo.

E o fato da mão de Bem que continuava segurando a minha era o bastante para me distrair por todo o caminho.

3 comentários:

  1. Adoro o fato dela ter salvo a vida dele tb......assim ela naum fica toda fresquinha....rrssrs

    queo mtooo saber oq acontece agora.......

    o capitulo ficou de maisssss

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  2. Q medo
    anciosa por mais
    Ben <3

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