domingo, 28 de novembro de 2010

Capitulo doze: A filha do pecado.

Marek surgiu e quase teve uma crise quando viu o ombro retalhado de Ben, acho que todas aquelas manchas de sangue deviam dar um tom bem dramático a situação, principalmente porque também pensei que a professora Lory fosse desmaiar.

Mas por fim, os três professores, Vicente, Lory e Marek, conseguiram levar todos os alunos de volta para o castelo e acredito que ninguém teria outra aula pratica de preparação corporal tão cedo.

Mas, o fato é que Ben precisava da enfermaria e eu precisava dormir uns três dias seguidos. Sério. Meu estomago estava completamente embrulhado, minha cabeça girava e eu sentia frio nos pés, provavelmente devido a minha... Perda de sangue.

Não que estivesse reclamando de algo.

- O que aconteceu? – Marek resmungou para nós, foi o único a perguntar, já que os outros dois professore mantinham todos os outros no “curso de fuga”.

- Aquira, ela achou que seria divertido enlouquecer. Me deixou sozinha no meio das árvores, e depois Ben me achou.

- E o que achou vocês? – Ele completou admirando o machucado.

- Um filhote de cerberus. - Foi Ben quem respondeu.

- Um o que?

- Filhote deles, sozinho. Deve ter se desgarrado do grupo.

Do grupo. Como se o tal filhote não fosse ruim o suficiente.

- Cerberus? Aqui? Você ficou louco! É impossível. Eles não voltaram. – Foi a primeira vez na minha vida em que vi Marek sério. Ele parou rígido encarando Ben como se fosse sair socando alguma coisa a qualquer minuto.

- Meu ombro não parece real pra você? – Ben respondeu igualmente ríspido.

- Vão pra enfermaria. Falaremos depois. – Marek finalmente deu de ombros. – Vou fazer um feitiço pra rastrear Aquira... e manter os outros alunos dentro da escola. – O professor arquitetava mais o plano para si mesmo do que para nós.

- Faça isso. – Ben me puxou para dentro da escola, Cherrie e Brige, tão quietas atrás de nós que eu quase nem em lembrava delas.

- Você precisa concertar esse ombro. – Murmurei.

- Você precisa descansar.

- Não vai sumir de novo? – Abaixei os olhos, não queria que ele pensasse que eu estava totalmente desesperada pensando na possibilidade de ele se afastar, porque eu não estava. Não mesmo. De jeito nenhum...

Ok, talvez um pouco. Mas acho que agora ele era meu... Amigo. Certo? Eu ficaria do mesmo jeito com Cherrie ou Brige, obviamente.

- Porque eu faria isso? – Ele respondeu sorrindo.

- Já fez antes.

- Antes... – Ele suspirou - Você me quer por perto?

- Quero. – Respondi tímida.

- Então terá. – Ele sorriu e soltou minha mão, meu mal estar pareceu em atingir com força total sem o encaixe da mão dele na minha.

Deus. Eu sou patética. Fim.

Até mesmo o som dos passos dele pareciam mais lerdos e cansados que o normal, e mesmo que ele não estivesse andando com a sua leveza natural, era impossível tirar meus olhos dos seus cabelos, sua nuca, suas costas, suas pernas...

Não. Eu sou muito mais do que patética, ainda mais porque eu devia estar com um sorriso bobo-alegre bem grande na cara quando me virei e dei de cara com Brige de dois olhos arregalados e Cherrie com um sorriso-segura-gargalhada.

- Nem se atrevam a dizer uma palavra. – Resmunguei.

- Eu sempre estou certa! – Cherrie não deu ouvidos a minha ameaça.

- Como se fosse preciso sentir a alma de alguém quando esses olinhos brilhantes denunciam tudo. – Brige riu.

- Calem a boca! – Tentei parecer mal-humorada mais acabei rindo também.

- Vamos pro dormitório senhorita invalida. A não ser que queria se passar por donzela indefesa de novo. – Cherrie insinuou.

- Alias, o que aconteceu exatamente? – Brige interrompeu.

- Longa história.

Contei resumidamente enquanto íamos para o quarto, tantas palavras e tantos passos agora pareciam me cansar ainda mais, olhar o número quinze na porta do dormitório que dividia com Cherrie e as Gêmeas Osírio foi uma grande alivio.

Haveria mais aulas no dia, Anastácia e Abgail estavam com sua turma em alguma delas agora, mas não era um bom momento para pensar nas minhas faltas.

Sentei na cama e vi que meu pulso continuava amarrado com o resto da camiseta de Ben, e eu mesma murmurei um feitiço para fechar os pequenos cortes, estava tão cansada e desconcentrada que acabei por deixar uma linha tênue formando uma cicatriz com formato de meia lua na minha pele.

- Espere. Vou fazer uma poção de cura. – Cherrie falou se lançado para seu guarda roupas enquanto eu tirava os sapatos.

Em meio minuto ela me entregou um copo de liquido esverdeado de gosto adocicado e enjoativo, mas eu logo sentia todo o mal estar se esvaindo enquanto bebia.

Estiquei-me na cama, tão confortável que quase foi capaz de me fazer esquecer os medos da tarde. Quase.

- Durma com os anjos e sonhe com o Benjamin. Ou ao contrario se preferir. – Ouvi a voz risonha de Brige longe e murmurei um último “cale a boca” antes de cair na inconsciência do sono.

***

Quando acordei estava sozinha no quarto, o relógio no criado-mudo ao lado da cama marcava dez horas e quarenta e cinco minutos. Elas deviam estar no salão do jantar agora.

Levantei-me e fui a direção do banheiro. Eu precisava urgentemente de um banho, deixei a água quente escorrer por todo o me corpo antes de vestir meu jeans e meu tênis.

Como nova. Pensei enquanto secava meus cabelos ondulados.

Quando sai do banheiro minhas três colegas de quarto estavam lá.

- Tudo bem? – Cherrie perguntou enquanto as gêmeas encaravam das suas camas.

- Sim, só com fome. – Sorri indo para a porta.

- Já passou do horário. – Abgail resmungou.

- Eu vou à cozinha. Não vão negar o meu direito de comer já que perdi o jantar. – Dei de ombros.

- Vou com você. – Cherrie levantou.

A iluminação dos corredores era fraca, como sempre ficava depois do toque de recolher.

Pensei na última vez em que havia saído do quarto fora do horário permitido. Havia encontrado Ben, será que o veria de novo?

A última vez. Aquela vez. O diário.

Eu não li o diário. Na verdade, me esqueci do diário.

Eu sou uma completa idiota.

- Gabriela? Oi? – Cherrie estalou os dedos na minha frente, eu havia parado no meio do corredor.

- Ah, o que? – Perguntei voltando a andar.

Ela riu. – Merlin! Você é uma garota apaixonada.

- Cherrie. Não comece. – Sibilei.

- Não precisa admitir, sua cara de tonta faz isso por você.

- Eu não estou apaixonada. – Falei tentando ser séria. – Não gosto do Ben dessa forma.

- Ben? – Ela indagou - Quem foi que mencionou Ben? – ela ressaltou o apelido.

- Ah, cale a boca.

- Gabriela tem um namorado... – Ela cantarolou.

- Quantos anos você tem? Cinco? – Cherrie riu e me deu um soco leve no ombro.

- Psicologicamente, talvez oito. Se fosse cinco eu gritaria. Gabriela apaixonada! – Ela ria e saltitava e eu quase tinha que correr para acompanhar a animação de Cherrie.

- Rá. Engraçado. Agora, cale a boca. – Quantas vezes eu já disse isso hoje?

Cherrie revirou os olhos.

- Você não entra no espírito mesmo, não é? - Ela colocou as mãos na cintura.

- Não. – Reclamei.

- Tudo bem. Amanhã conquisto Brige como aliada.

- O que? Vocês acham isso divertido? Me irritar? – Retorci minhas feições numa careta.

- Achamos. – Ela riu. – Ah, qual é Gabs! Sabe que é só brincadeira.

Eu não pude resistir e acabei rindo.

Mas repentinamente, Cherrie ficou séria. Tão séria que se o rosto não estivesse atento a algo eu poderia jurar que seria outra visão.

- O que...

- Shhh. – Ela agarrou meu pulso e me puxou quase correndo pelo corredor. – Eu posso sentir...

Ela parou e colocou a mão livre na parede. – Medo... Desespero... Por aqui. – Ela voltou a correr e a me arrastar.

Cherrie havia me guiado por um corredor que eu nunca estivera antes e mesmo que os corredores daqui fossem todos parecidos, esse era menor e nessas paredes não havia quadros pendurados, apenas portas de madeira.

- Não, eles não precisam de ajuda...

- Cherrie. Oi, o que?

- Almas cheias de sentimentos atormentados, eu posso senti-las. Aqui. – Ela cochichou enquanto colocava um pé na frente do outro, silenciosamente.

Ela soltou minha mão e levou o dedo aos lábios, mandando-me ficar em silêncio e encostou o ouvido em uma porta de madeira.

Anham. E depois eu sou a mal educada. Belos modos os dela!

Ela agarrou meu pulso e fez minha orelha esquerda ficar colada a porta também.

- Perdemos o contato com Melany e outro selo foi rompido Marek, como você pode pedir calma. Quase ocorreram mortes. – Reconheci a voz exaltada da professora Lory McKenzie.

- A morte dela seria um desperdício para eles, a filha do pecado é única. – Era voz grossa de Marek Giatti

- Precisamos rastrear Melany. E reconstruir os selos. – Essa voz era tão calma e doce que foi difícil entender as palavras abafadas pela porta. Eu não a ouvi com freqüência depois dos primeiros dias de aula, mas só pelo tom de controle eu já sabia que era Abelle de Giry.

- Os representantes precisarão vir. – Marek resmungou.

- Antes que tudo fuja do controle de novo. – Professora McKenzie continuava desesperada. Fadas, sempre tão verdadeiras em seus sentimentos.

- Nada sairá do controle, Lory. Reconstruiremos os selos e não haverá ataque enquanto a proteção se manter. Isso eles aprenderam da última vez. –Abelle assegurou.

- Mas a filha do pecado. Ela não tem culpa de ser o que é, ela precisa ser protegida... – As falas de Marek cessaram. Algo o interrompeu.

- Ah droga. – Escutei um murmúrio de Cherrie que tentou pegar meu pulso e me fazer correr.

Mas era tarde demais.

A porta escancarou-se e revelando a diretora, com sempre vestida distintamente em seus vestidos pretos e seus cabelos castanho-grisalho estavam puxados em uma trança que caia até sua cintura.

- Desejam alguma coisa garotas? – Ela deu dois passos em nossa direção. Apoiada em algo que nunca a vira usar antes, uma bengala de cabo escuro e na ponta, onde sua mão se apoiava, o maior diamante que vi na minha vida.

- Não... só... é... – Cherrie gaguejou.

-Oh sim, aposto que terão uma boa desculpa para estarem fora dos dormitórios a essa hora. Acho que terão de contá-la ao Professor Giatti.

- Eu as acompanho até o dormitório. – Marek surgiu com um sorrisinho tímido.

- Faça isso. – Era quase impossível desviar dos olhos de Abelle, as leves ruguinhas ressaltavam a seriedade de sua expressão.

Mas logo que Marek tomou a nossa frente nos guiando ela voltou para a sala onde estava a professora Lory.

Quanta tensão.

- O que faziam fora dos quartos? – Marek quebrou o silencio que nos acompanhava.

- Nós íamos para a cozinha, Gabriela perdeu o jantar e nós perdemos o caminho.

- Ah. Ainda com fome Gabs?

-Perdi a apetite. – Fiz uma careta e ele riu. Ufa, eu mesma já estava quase sentindo falta das gargalhadas de Marek.

- Senhora de Giry também me dá medo. E até que ela foi simpática com vocês.

- Comparado ao que ouvi, deve ter sido mesmo. – Dei de ombros.

Quem se importaria com alunas fora da cama depois do horário agora. Olha, tem cachorros do inferno lá fora.

- Não abusem da sorte, vão para seus quartos e não saiam de lá. É sério. – Marek parou de frente ao corredor dos dormitórios nos encarando.

Cherrie tomou a frente comigo em seus calcanhares. Podia até sentir a nuca formigando com os olhos claros do professor em cima de nós.

- Você sabe que a algo grande acontecendo aqui, não? – Cherrie cochichou quando já estávamos perto da porta.

- Sei. – Suspirei.

- Isso meio que me assusta. Quer dizer, você sabe o que aconteceu da última vez. Ninguém quer aquilo de novo. – Ela resmungou abrindo a porta do quarto.

Eu concordava com cada palavra.

- será que ele vai ficar no fim do corredor a noite toda? – Ela deu uma risadinha, ainda cochichando agora por respeito ao sono das nossas colegas de quarto.

- Espero que não. Eu... Tenho algo a fazer.

- Ah você não vai... – Dei de ombros e Cherrie revirou os olhos. – Merlin, depois diz que não está apaixonada.

- Não estou.

Cherrie mostrou a língua e se jogou na sua cama.

Eu só conseguia pensar no seu ombro, no seu cansaço, eu queria saber se ele estava bem. Eu precisava vê-lo e sabia onde ele estava.

Acho que eu sempre soube onde ele estava.

Um comentário:

  1. ela pode tentar fingir....mas ela esta completamente apaixonada.....ssrrsr

    adorei esse post.....

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