quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Capitulo seis: Vampiro.

- Então eu também tenho uma má fama. – Arqueei uma sobrancelha presunçosa.

- Nesse caso seria só para mim, Gabriela Alcântara. – Ele sorriu. – Eu queria falar com você. Na verdade eu preciso. Só não conseguia pensar em uma maneira decente de fazer isso... Mas não se pode desperdiçar uma oportunidade, não é? - Ele suspirou pesadamente.

Os olhos se manteram fixos em mim enquanto a cabeça tombava em um convite mudo para que eu me aproximasse.

Eu observei rapidamente os pequenos detalhes do sótão. O teto era baixo e a luz do luar que passava pela claraboia no centro e era a única luz presente, e também era suficiente. O chão era de madeira quase limpo no centro, onde Benjamin observa a lua. De limpo restava apenas uma cadeira de balanço antiga.

Eu caminhei na direção dele, hesitante, na verdade. Cada passo parecia pesar. Não que houvesse concentração o suficiente para meus pés com aqueles olhos em cima de mim.

- Eu sei que sou estranho, mas não é agradável você ficar me encarando assim. – Ele deu meio sorriso.

Ah droga, minhas bochechas queimaram de novo. Ele estava fazendo de propósito, só pode.

- Sim, você é estranho. – Dessa vez eu estava realmente tentando ser mal-educada. Mas parece que não era tão fácil assim com ele.

- Bem nervosinha, você vai ter de dar um voto de confiança a mim mesmo assim. – Ele ergueu uma sobrancelha fazendo sua testa criar leves ruguinhas.

- O que diabos você quer afinal? - Indaguei cruzando os braços

- Tudo bem, eu estava tentando fazer isso de uma maneira calma, mas parece que educação não se aplica a você, Gabriela. – Ele resmungou.

- Isso também foi muito delicado da sua parte, Benjamin. – Retruquei de volta.

- Pirralha mimada.

- Velho estúpido.

E então o silencio.

Girei nos meus pés me preparando para andar para a saída. Abelle de Giry quando acordada no meio da noite pro alunos novos deve ser mais agradável que um vampiro.

- Espere. - Ele suspirou. – Desculpe.

Eu parei ainda de costas, não ia me arriscar a olhar para ele e me derreter como uma menininha. Não mesmo!

- Você pode vir até aqui?

Caminhei mantendo minha cabeça baixa. Parei quando percebi a luz na lua sob mim.

- Estou ouvindo. – Murmurei.

Ele colocou as mãos frias no meu braço e me puxou – delicadamente - para o chão, onde ele se sentou de frente a mim.

- Você mesma disse que eu sou velho, bom, eu realmente sou velho. – Ele suspirou – Portando eu já vi muita coisa. Presenciei muita coisa.

- Vá direto ao ponto. – Dessa vez eu me concentrei em fazer uma careta desafiadora enquanto olhava para ele. Nada de olhar para os olhos dele Gabriela, se concentre em outra coisa. Ah Deus, a boca também não! As orelhas, isso. Gabriela olhe para as orelhas!

Que orelhas lindas...

- Você entende? – Ele interrompeu antes que minha imaginação começasse a fluir pra como deveria ser por baixo da sua camiseta azul-marinho.

- Hã... Anham. – Dei de ombros. Eu não tinha ouvido uma palavra do que ele dissera.

Não estava a uma distancia segura para prestar atenção em palavras. E claro que eu também não ia dizer “Oh, pode repetir por favor, é que eu estava distraída imaginando sua camiseta no meu quarto de manhã...

Caramba Gabriela, se controle sua tarada! Graças a Deus por vampiros não poderem ler mentes.

- Bem, eu devia encontrar Gabriela Alcântara. E você tropeçou em mim ontem. Havia alguma coisa em você, que... Eu não sei. Mas você tinha... Você tem alguma coisa que chama atenção Gabriela. – Só ai ele parou para respirar. – E eu ouvi você se apresentando para Cherrie, sabe sentidos de vampiro. E eu tive certeza. É você.

- Que diabos você quer dizer, Benjamin?

- Tudo tem haver com Arienne. – Ele suspirou pro fim.

Eu procurei ar, mas não encontrei um modo de fazer com que ele fosse até meus pulmões.

Tudo tinha haver com Arienne. Ele disse Arienne!

- A mi-minha avó? – Minha voz saiu arrastada e gaga demais. Mas ele havia entendido.

Agora não importava mais nada, nenhuma fantasia sobre o corpo de Benjamin, ou seus olhos ou sua boca.

Ele estava falando da minha avó. De Arienne Alcântara morta e enterrada há dez anos.

- O que, o que você sabe... O que? – Balancei a cabeça tentando colocar minhas idéias no lugar.

- Eu conheci sua avó, Gabriela. Ela salvou a minha vida.

Acenei para que ele continuasse.

- A guerra dos céus, você deve se lembrar. – Claro que eu me lembro perfeitamente de tudo.

Por mais que lutasse para esquecer. – Eu fui um dos envolvidos. Um voluntario. – Ele suspirou. – Não é a primeira vez que eu estou aqui. O meu primeiro ano foi a dez anos atrás, na época que sua avó era viva e lecionava aqui.

Acho que não mencionei o fato de que minha avó era professora de fluência do Instituto. Na época em que o nome “Ametista” ainda não era usado. Antes da guerra.

- E como ela salvou sua vida? Porque você ainda está aqui? Porque você está me dizendo isso?

- Abelle de Giry na época ainda era coordenadora. Assumiu quando o diretor Ferandiére morreu. Ela dizia que os alunos deviam ficar de fora para sua própria segurança. – Ele pareceu se divertir com essa parte, o que me causou raiva. – Mas eu já era bem velho naquela época. Eu fui para a guerra.  Foi no fim do meu primeiro ano letivo, depois de tudo eu abandonei as aulas e fui para a Itália. As coisas aqui mexeram com a minha cabeça, em séculos de vida vampira eu nunca havia sentindo... bem, sentido medo. Patético eu sei, um vampiro com medo. Mas Gabriela foi horrível. Mortes e destruição. Mas patético ainda isso assustar um vampiro não é? Eu devia viver disso... – Ele deu uma pausa perceptível como que para retomar o rumo da história inicial.

- Benjamin, eu entendo. Foi horrível. Era uma guerra afinal, mortes, sangue, dor. Ou você se esconde do mundo, ou você sai e morre. Ou pior, você sai e sobrevive...

- Sim. Compreendo. –Sua voz saiu arrastada em um muxoxo. – Eu quase morri. Sua avó salvou minha vida. E lembra-se que eu queria te mostrar uma coisa? Na verdade é devolver a você uma coisa que já é sua por direito.

- O que?

- Espere.

Benjamin se levantou elegantemente e caminhou até uma das caixas empoeiradas no escuro e a revirou.

O cheiro da poeira me incomodou momentaneamente.

Ele voltou com um embrulho de papel cor de, bem, cor papel de padaria desbotado. Preso com cordinhas.

- Você vai ter de confiar em mim, é uma história um tanto longa. – Ele sorriu enquanto passava o embrulho para mim. – É o diário de Arienne. Não se preocupe, eu nunca sequer abri a capa para ler. Eu lhe juro.

- Da minha avó? – Indaguei olhando o embrulho. Logo rasguei o papel - que quase de desfez sozinho – Revelando um caderno de capa dura cor de vinho. Com os dizeres em dourado.

“Memórias de Arienne Alcântara”

Eu tive certeza de que era autentico quando li as letras douradas. Era a caligrafia dela, fina, inclinada e angulosa que eu reconheceria em qualquer lugar passasse o tempo que fosse. Era o diário da minha avó. Era dela. Dela e só dela.

E agora era meu.

- Como você conseguiu isso Benjamin? – Minha voz subiu algumas oitavas sem que eu percebesse.

- Eu vou lhe contar, calma. – Ele se sentou de frente a mim novamente.

Dessa vez suas mãos caminharam para as minhas que acariciavam a capa do caderno envelhecido. – Eu sei que sua avó era importante para você. Sei que você nunca mais foi a mesma depois que ela morreu, perder alguém que se ama é sempre complicado. - Ele suspirou, mantendo sua mão esquerda sobre a minha enquanto a direita subiu até meu queixo, me forçando a olhar para seus olhos.

- Eu não quero que você sofra Gabriela. Mas você pode se lembrar do dia em que sua avó faleceu, o que aconteceu naquela noite?

O assunto fez com que navalhas se agitassem em minha garganta e meus olhos queimassem por dentro.

Mas mesmo entre a dor o simples toque dele conseguia fazer minhas mãos e meu rosto formigarem. Não de uma forma ruim.

- Eu recebi a noticia pela manhã. – Comecei. – Minha avó morreu por asfixia. Os bruxos aliados a magia negra armaram explosivos mágicos na floresta que envolve a escola. Quando alguém se aproximava tudo queimava. Minha avó pisou onde não devia e detonou um feitiço, só pudemos enterrar seu corpo porque um homem trouxe de lá, ou ela seria mais um dos corpos queimados da época.

Quando terminei minha curta narrativa as lágrimas escorreram.

Oh droga, eu estava mesmo chorando na frente dele.

- Shh, eu sinto muito. – Ele afagou meu rosto secando as lagrimas. – Mas a história começa ai.

- Conte. – Exigi.

- Sua avó não pisou onde não devia. Ela voltou por vontade própria, para salvar alguém. Um desconhecido dela. – Ele pausou, não sei se para reunir coragem ou deixar que eu falasse alguma coisa.

Eu apenas sequei o resto das lagrimas que insistiam em descer e deixei meus ouvidos atentos.

Eu não duvidaria que minha avó voltasse para salvar alguém, ela era uma heroína. Seria típico dela.

- Uma bomba feitiço foi acionada e tudo pegou fogo. Os outros montaram em seus unicórnios e cavalos alados e fugiram. Não os culpo. Eles é que estavam certos. Mas bem, nem todos conseguiram fugir, alguém ficou para trás... Gabriela, eu fiquei para trás. – Ele suspirou. – Eu só ouvi os galopes distantes enquanto o ardor do fog se aproximava de mim. E você sabe, somos tão agarrados a vida. Eu entrei em desespero. Não havia saída. Apenas o calor cada vez mais perto e os galhos das árvores desabando em todas as direções. Quando me dei conta, minha perna era um dos galhos que queimava, não sei como, mas eu cai no chão e comecei a me debater, e meu braço começou a queimar também. Eu ia morrer, ninguém poderia me tirar dali a tempo do meu corpo e recuperar das queimaduras, o fogo o consumiria. Matar um vampiro é uma coisa realmente difícil, afinal eu sou imortal, não adoeço ou envelheço. Mas meu corpo é carne e osso, ele queima.

Mais uma pausa.

- E então? – Por mais atordoada que aquilo estivesse me deixando eu pedi pela continuação.

- E então como o maior alento que você possa imaginar, água me atingiu. Água conjurada a partir da lápis-lazúli da sua avó. Acredito que essa mesma que você traz no pescoço hoje. Bem, Arienne estava do meu lado perguntando-me se eu estava bem. Ela havia aberto uma fissura dentre as chamas conjurando água. Mas o fogo já estava consumindo tudo de novo, dessa vez mais forte. Nós tentamos fugir dali. Mas o fogo não cedia, por mais água que ela invocasse nada parecia detê-lo. Nós rastejávamos em busca de ar. Foi ali que eu compreendi o horror de uma guerra. Foi ali que eu compreendi a crueldade verdadeira. Foi ali que eu senti medo.

Meu cérebro lerdeou até ele pudesse processar tudo.

- E como... como. – Eu não me preocupei mais em conter minhas lagrimas agora. Não havia jeito mesmo, deixe que elas escorram então.

- Nós tentamos fugir. – Ele recomeçou. – Mas havia muita fumaça, isso não era um problema para mim. Vampiros não precisam de ar como vocês. Mas para Arienne as coisas ficaram difíceis. Ela começou a vacilar. As memórias daquele dia são fracas para mim, porque tudo que eu tentei fazer durante esses dez anos foi esquecer, mas as palavras dela, as últimas palavras da sua avó eu nunca consegui. Eu sei recitá-las perfeitamente até hoje e acredito que ainda será assim daqui a cem anos... Arienne estava fraca, tossia tanto e quando ela caiu foi a última vez em que falou comigo. Ela disse o seu nome. E Mencionou o diário. Não foi claro, mas eu me lembro... “Gabriela... Neta, meu diário... dela, mais velha, dê a ela. Gabriela” Eu consegui entender que isso devia ser seu. - Ele apontou para o diário - Então quando voltei ao instituto, roubei da sala dela. Por favor, não me leve a mal com isso. A única intenção desde aquele dia era entregá-lo a você.

Ele deu mais uma pausa para respirar. E eu entrei em crise, levei as mãos ao rosto para conter meus soluços do choro que se desencadeou de maneira frenética.

- Gabriela... Eu sinto muito.- Ele colocou as mãos nos meus ombros, primeiro hesitante, como se esperasse minha permissão. Depois me puxou para um abraço. Não era apertado, eu poderia me afastar se quisesse, mas simplesmente não havia como pensar, como reagir.

Eu estava revivendo meus sete anos de idade.

- Eu sabia que você sofreria. Desculpe-me, mas eu ainda esperava por uma reação melhor. Meu deus, Gabriela, desculpe-me. – Ele lamentava enquanto afagava os meus cachos.

- Ela morreu. Benjamin, ela morreu. Depois disso, depois disso... Ela morreu. – Lutei para tentar passar algum nexo na minha mensagem entre soluços.

- Ela desmaiou, eu chequei o coração e ele ainda batia. Eu sentia o cheiro do sangue ainda pulsante. Eu corri com Arienne nos braços, mas parecia que para todo lugar por onde eu tentava fugir o fogo aumentava, ou um galho caia ou outra bomba feitiço explodia. E sem as conjurações de água ficou tudo ainda mais difícil. Eu lutei, eu juro que eu fiz de tudo. Mas eu... Eu falhei, quando consegui trazê-la de volta ao Instituto, ela... Havia morrido. Ela estava ficando fraca a cada segundo, eu queria poder ter ajudado, mas eu não sou uma criatura nascida para curar, para ajudar. Ela morreu antes que os outros bruxos pudessem salva-la. Eu sinto tanto, tanto. Eu falhei.

Eu demorei alguns segundos pra processar tudo. O corpo, o homem que havia trazido a corpo da minha avó era Benjamin. Havia trazido quando ainda era viva, porque ela o salvou do fogo. Ela o impediu de morrer.

E ela morreu.

Ah, minha santa Glinda do norte.

- Não... – Murmurei me agitando para me livrar de seu abraço.

- Eu sinto...

- Pare de repetir isso! – Minha voz estava mais alta do que o normal. – Mas que diabos, você não consegue ver? A culpa é sua, Benjamin! Sua!

- O que? – Mesmo com os meus olhos quase doloridos e a minha visão embaçada eu ainda podia ver perfeitamente a expressão em seu rosto bonito. Surpresa, dor, angustia.

Mas eu estava buscando o remorso... Embora seja inútil procurar por isso nos olhos de um vampiro.

Agarrei-me ao diário no chão e me afastei dele como se ele fosse me morder.

- Ela voltou por causa de você. Ela devia ter fugido, era para ela estar viva. Era para minha avó estar aqui comigo. Benjamin, a culpa é sua. Você a matou. – Fui interrompida por um som agudo que identifiquei como mais um soluço do meu choro. – Assassino. – Cuspi a palavra. –Assassino! Você a matou, a culpa é sua, monstro! Assassino! Vampiro!

- Gabriela... – Eu encontrei o remorso que procurava agora. Ou o mais provável, uma farsa de remorso.

- Não se atreva a dizer que sente muito outra vez! – Agora eu estava quase a gritos. – Você não vê? Você destruiu a minha vida, a minha e a da minha mãe. Você matou a minha avó! Por isso você fugiu para a Itália! Covarde. Você não teria coragem de olhar para nós por acaso? Toda a nossa tristeza, toda a nossa angustia! Você tornou uma criança de sete anos na pessoa mais amargurada do mundo Benjamin! Você não passa de um monstro! – Lutei para conseguir me manter de pé enquanto minhas pernas ameaçavam ceder.

- Você não entende. Acha que eu nunca pensei nisso. Uma pessoa morreu para que eu pudesse viver. Você acha que eu não sempre pense nisso? Eu vivo de sangue, Gabriela. A morte me cerca a todo lugar que eu vá. Agora, você acha que eu não tento lutar contra isso? Você não acha que durante séculos tudo em que eu pensei foi como me controlar. Acha que eu vim para essa droga de escola no começo pra que? Aprender sobre bruxos? Não! Para conviver com outros, que como eu, não querem merecer esse rótulo de monstro. Para controlar a sede. Eu tentei, eu fiz de tudo para salva-la, eu juro... – Ele tentou colocar a mão em meu ombro novamente, mas eu me esquivei.

- Cale a boca! - Gritei rezando para que ninguém além de Benjamin fosse capaz de ouvir. – então agora você é o herói? Era para você estar morto! Era para ser você no lugar dela! E ainda me vem dizer que sente muito? Você devia estar morto! Morto! Como a sua família, como os seus amigos. Não se pode viver por séculos sem envelhecer droga, não é natural! Tudo morre, por que você tinha de ser tão egoísta? Porque você tinha que continuar vivo? Você devia estar morto porque e ninguém se importaria! Ninguém sentiria sua falta porque todos os que gostaram de você um dia já envelheceram e morreram. Eu odeio você, Benjamin eu odeio você... Vampiro! Porque minha avó foi no seu lugar? Por quê? Não é justo!

Eu parei de falar procurando estabilizar minha respiração.

Ele parou. Olhando-me.

Congelado. Estático. Pasmo.

- Tudo bem, eu entendo a sua raiva. Quando você se acalmar nós podemos conversar e...

- Não! Droga você não entende nada! Eu não quero conversar com você, eu não quero ver você. Você já em entregou o diário, ótimo! Fez o mínimo do que deveria. Agora me deixe em paz!

Sai dali a uma quase corrida desengonçada e cheia de tropeços pelas escadas escuras, caindo nos últimos três degraus.

Benjamin não veio atrás de mim, ótimo.

A culpa era dele. Era dele!

Eu alcancei a luz dos corredores e dessa vez corri de verdade agarrada ao diário. Meu Deus, se você já perdeu alguém, mas alguém que amava de verdade sabe que isso nunca passa. Porque se você dizer que superou e que não dói mais é porque você não amou de verdade.

Eu passei pelos corredores até que finalmente consegui encontrar meu dormitório.

Eu hesitei antes de abrir a porta para que as outras três garotas continuassem dormindo. E elas continuavam lá, como quando eu havia saído.

Joguei o diário na cama, puxei o elástico do cabelo e peguei os fones de ouvido.

Quase soterrei dentro das orelhas erguendo o volume o mais alto que podia. Numa tentativa de evitar ouvir meus pensamentos.

“Load up on guns and bring your friends. It's fun to lose and to pretend”

Eu abracei meu corpo e me entreguei as lagrimas. Eu só queria poder esquecer tudo e fingir que nunca aconteceu. Eu queria poder dormir e acordar uma criança de novo. Eu queria poder acabar com as dores do mundo. Eu queria poder ser eu mesma sem que tivesse que me esconder atrás de tanta magoa.

Mas isso era impossível. Por enquanto, apenas algumas horas de inconsciência bastavam.

“Hello, hello, hello, how low”

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Capitulo cinco: Meia noite.

Em resumo, foi um dia agradável.

Mas não posso negar que há certo alivio agora que as garotas estão dormindo e eu estou aqui apenas com os ruídos da música de meus fones de ouvido – Essa foi a melhor invenção que um humano poderia ter criado, os fones de ouvido! – afinal, até pouco tempo estávamos eu Cherrie e Brige em uma mesa no jantar movimentado daqui.

Ao menos a lasanha é ótima.

Olhei para a escrivaninha, o abajur iluminava os ponteiros do relógio. Faltavam dez minutos para as onze da noite.

Qual era o toque de recolher mesmo? Onze horas...

Rolei meus olhos para o abajur apagado das outras três camas.

- Cherrie. – Sussurrei sem obter resposta alguma. Quando eu queria que ela falasse, ela não o fazia!

Tecnicamente eu não estava infligindo regra nenhuma. Ainda faltavam dez minutos.

Joguei os pés para o chão frio até encontrar os chinelos. Puxei um elástico da escrivaninha e arrumei meus cachos num rabo de cavalo, depois desliguei o som das guitarras do mp5 e o deixei onde antes estava o elástico, finalmente, peguei meu casaco preferido – um preto com gorro – dei uma ultima olhadela me certificando de que as outras três estavam dormindo.

Caminhei para a porta.

Acho que agora já devem ser onze horas. Mas quem liga?

O corredor continuava iluminado pelas tochas. Não teria de sair as cegas por ai.

O meu plano inicial era encontrar a biblioteca. Mas bem, você se lembra dos quadros não é? Pois então, eles me tiraram do plano.

Os rostos me fitavam quase parecendo vivos, só então me dei conta de que haviam espécies de legendas nas obras.

“Marek Giatti bruxo do diamante, descobridor do feitiço do fogo frio”

“Megan Stuart. Primeira vampira a se declarar publicamente contra o consumo de sangue humano”

“ Dulce Berleg bruxa da Alexandrite, criadora da poção da verdade”

Tantos outros rostos... Fadas, bruxos e outras criaturas.

Fascinante. Decididamente fascinante.

Deixei que minhas pernas me levassem pelos corredores desertos. Parece que os alunos realmente cumprem as regras aqui.

“Selene Brown. Última bruxa da pedra Ametista, morta na guerra dos céus”

A guerra dos céus, a maldita guerra dos céus. Foi onde minha avó morreu, ela se ofereceu para ajudar a formar o exercito que protegeria o diamante. - E Não era qualquer diamante, era ‘o’ diamante. - Longa história e lembranças ruins. Quer um resumo? Poder. Qualquer criatura faz tudo pela sensação de poder, de controle. Tudo se resumia a poder e ganância.

Tudo pode ser descrito como pecado também.

Eu ouvi passos distantes. Ótimo, vou ter de ouvir reclamações no meu segundo dia aqui.

Eu pus minhas pernas para andarem o mais rápido que conseguia.

Não eram exatamente passos, eram mais para galopes. Talvez fosse um aluno ou talvez fosse Aros Dagny, o coordenador centauro.

De qualquer forma eu não queria saber. Mesmo que minha cabeça virada para trás só me mostrasse o corredor igualmente parado e o barulho dos meus passos firmes – quase uma corrida – não me deixava distinguir o quão perto os galopes estavam.

Não que eu fosse parar para descobrir.

Ao menos não era essa minha intenção até sentir em baque frio e familiar contra mim. Contatei que não poderia ser uma parede assim que senti o formato de uma mão tampando a minha boca.

- SHHH. – Ele sibilou – Calma. – Ele sussurrou em meu ouvido. Com uma voz tão bonita que deveria ser crime. Foi impossível reagir enquanto ele pegava meu pulso e me conduzia pelos corredores. Eu não podia negar que sua pele era linda, que seus olhos eram lindos, que sua voz era linda, que Benjamin é lindo. Isso é apenas um fato. Ninguém pode negar ao contrario. Estaria mentindo.

Mas isso não era um elogio. Ele era bonito assim porque é da natureza sanguessuga dele. Mesmo que ele fosse um tipo cheio de moral e metido a civilizado, ainda era um vampiro. Ainda era uma criatura da noite, ainda bebia sangue e ainda era um grosso, perigoso e imprevisível. Era um vampiro e não um herói de uma história romântica.

E isso é abominável.

- Onde você está me levando? – Interrompi o silêncio com o tom menos educado de voz que consegui manter.

- Eu estou salvando a sua pele novata, devia me agradecer! – Ele resmungou me dando uma rápida olhadela por cima do ombro.

Então as mãos que antes seguravam meu pulso de preocuparam em abri uma porta.

- Você quer um convite formal? – Ele arqueou uma sobrancelha para mim me dando passagem pela porta. Passagem para uma escadaria mal iluminada, para o escuro.

- Eu não vou. – Cruzei meus braços mantendo meu tom desagradável.

- Tudo bem, faça o que quiser. Eu só queria te ajudar porque acredite, Abelle de Giry não é tão amigável quanto parece. Eu sei bem disso, estou fugindo dela a um ano!

Reconsiderei um momento me lembrando dos galopes que havia ouvido.

Ops. Não era só uma lembrança, e eles pareciam cada vez mais perto...

Bufei auditivamente e revirei meus olhos ao passar por ele.

Eu não devia fazer isso, eu realmente não devia fazer isso. Ele era um vampiro desconhecido e eu estava o seguindo para onde ele quisesse me levar. Não, definitivamente é uma péssima idéia.

- De nada nervosinha. – Ele resmungou.

- E o seu plano brilhante e ir para onde, Benjamin? – Rodopiei em meus calcanhares encarando seus olhos verdes. Eles pareciam mais claros ainda contra a iluminação precária da escadaria espiral. Olhos que queimavam, iludiam, encantavam e matavam.

- Nós já fomos apresentados? - Ele forçou uma cara de desentendimento - mais para ironia - e eu me dei conta do que havia feito.

Ótimo, eu quase podia sentir minhas bochechas queimando enquanto desviava os olhos.

- Ou talvez minha má fama seja maior do que eu pensava. – Eu senti uma mão fria nos meus ombros. – E sim, eu tenho um plano brilhante.

Ele passou por mim e eu o segui. Sabem o que dizem s humanos, já que está no inferno abrace o demônio. - Apenas força de expressão. Você sabe, todas essas historinhas de vampiro condenados. Cai como uma perfeita metáfora.

- Acho que eu também tenho o direito de saber seu nome. – Sua voz retomou minha atenção.

- Gabriela.- Murmurei.

- Gabriela. – Ele repetiu. – Vem comigo? – Ele estendeu a mão pálida.

Me cérebro me mandou recusar.

Mas eu fiz justamente o contrario.

Sua burra. Isso Gabriela! Talvez só encontre seu corpo dilacerado daqui uma semana. Seria bem feito.

- Algum problema? - Ele perguntou enquanto me guiava escadaria acima.

- Sim. – Tirei minha mão de dele. - Você é um vampiro com quem eu nunca falei na minha vida.

Ele riu. Sim riu!

- Eu não vou morder você... A não ser que você queria muito. – Ele piscou e estendeu a mão de novo.

Eu demorei um pouco para me lembrar do que ia dizer.

A mas dessa vez ele não ia vir com seus olhos pra cima de mim de novo, hora de valorizar sua capacidade intelectual Gabriela!

- Primeiro. Isso foi um clichê arrogante e totalmente sem sentido. Segundo. Você é um vampiro e isso jamais aconteceria. E terceiro. Eu não tenho medo de um metido a sedutor barato e convencido como você.

- Outh. – Ele fez uma careta ofendida.

- Você é tão irritante. – Oh minha querida amargura, que bom que você voltou!

-Desculpe. – Ele arrastou a palavra.

A parte racional zombou de sua tentativa teatral de me comover.

A parte emocional se sentiu culpada.

-Não precisa fazer drama também! – Resmunguei.

Ele deu meio sorriso.

- Eu prometo que não vou te machucar, Gabriela. Quero te mostrar uma coisa. Por favor. – Sua voz retomou o tom de música que tinha naturalmente. Tão irritamente lindo...

Ah droga.

- Ok. – Resmunguei. Mas não dei minha mão a ele.

Ele revirou os olhos.

- Tudo bem.

Começou a subir os degraus, eu o imitei. Cada vez que subíamos ficando mais escuro.

Bruxa + escuro+ degraus = combinação imperfeita.

Tropecei nos meus próprios pés. Que humilhante.

Suas mãos frias vieram em volta da minha cintura e impediram uma queda feia. Reflexo de vampiro.

- Se você cair e começar a sangrar, ai eu admito que as coisas vão ficar complicadas para mim.

Ele tinha mesmo me dito isso? Não podia só mentir e fingir que era o senhor autocontrole?

Suas mãos continuaram gentilmente em minhas costas, me guiando, era quase difícil pensar nelas como mãos de uma criatura de espécie dele. – Mas que outra espécie poderia ser capaz de me guiar no escuro, se não uma criatura da noite?

A escadaria acabou.

E o plano brilhante de Benjamin era uma espécie de sótão. Haviam varias caixas empoeiradas, o que deixava claro que ninguém mexia neles há anos. Cadeiras velhas e livros empilhados. A maioria era didático, mas eu sempre considerei deixar livros abandonados assim um pecado.

Benjamin passou por mim e caminhou até uma espécie da clarabóia de vidro. E a abriu como se não apenas uma porta encostada.

Gesticulou com a cabeça para que eu me aproximasse, para sob a luz da luz crescente – quase cheia – Bem no meio do céu totalmente estrelado.

Que horas seriam? Meia noite talvez?

- Ninguém nunca veio aqui. É meu lugar referido na escola.

Eu não soube se o “ninguém nunca veio aqui” se referia a ninguém nunca veio aqui sem ser convidado, ou se ele nunca trouxera ninguém aqui.

Mas porque diabos a segunda alternativa seria a certa? Ele nem me conhecia...

- Bem útil em noites de insônia, não?

- Bem útil. – Ele sorriu.

Vampiros com insônia. Ri mentalmente disso.

- Só não conte a ninguém, promete que será um segredo? – Ele perguntou colocando a mão em meu ombro.

- Sim... Mas porque você me trouxe aqui?

- Bem... Eu devia deixar isso como um segredo apenas meu. – Ele respondeu pesaroso olhando as estrelas. - E eu sabia seu nome antes de perguntar a você também.

Ele deu meio sorriso e eu não consegui encontrar mais o meu fôlego.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Capitulo quatro: Metamorfo

- Pra que diabos uma saia tem de ser tão comprida! – Cherrie reclamava, pela milésima vez, do uniforme.

- Porque isso é uma escola. – Resmunguei.

- Mas eles precisavam ser tão feios! Tinha esperança de que mudassem pra esse ano...

- Oh deus, é só um uniforme Cherrie! E ande logo! - A cortei tentando apresá-la.

Eu estava pronta, isso inclui um demorado banho e muito tempo perdido para arrumar os cachos de meu cabelo, enquanto Cherrie ainda estava arrumando um coque no seu.

E sabe se lá que horas ela acordou para isso!

- Você não está cumprindo a promessa de melhorar o humor! – Ela acusou.

- Nem você a sua, mas não importa. Ande logo!

- Tudo bem! Pronto! Qual é aula?

- Fluência. Professor Ferdinando Maloes. E estamos atrasadas.

- Pronto, já não disse? Pronto! – Ela agarrou a bolsa e passou a alça lateral pela cabeça.

- Finalmente! – Resmunguei.

Era a primeira aula de fluência, ora, você não queria que tudo se resolvesse com um abracadabra ou sinsalabim não é! Existem as palavras certas, com a pronuncia certa, no tempo certo.

Ninguém aqui disse que bruxaria era simples.

- Torre seis, sala oito. – Ouvi Cherrie do meu lado.

- Eu sei, já chequei.

Eu gostaria de ter prestado mais atenção no quadros que cercavam o corredor, eles eram dignos de serem observados. Bem, Se não estivesse atrasada graças a Cherrie, diga-se de passagem, gastaria um bom tempo olhando para as longas paredes dos corredores, mas agora, infelizmente, eles eram apenas borrões nas paredes.

Mas eu ainda tenho quatro anos para isso, não é?

- Viu só, chegamos na hora! – Cherrie cantarolou vitoriosa segurando a porta de madeira aberta.

- Dessa vez! – Joguei meu rancor em seus ouvidos enquanto passava por ela.

A sala era redonda e o piso era o mesmo da madeira do salão enquanto as paredes das mesmas rochas acinzentadas dos corredores. Haviam longas carteiras com bancos, um corredor que ia da porta até a mesa do professor e mais mesas longas.

Procurei por rostos conhecidos nos bruxos que já estavam lá, não encontrei nenhum. Anastácia e Abgail estavam na turma quatro e Lucy e seus amigos eram do ultimo ano.

- Hey, tomem os seus lugares! – Ouvi uma voz masculina atrás de mim. Professor Ferdinando Maloes havia chegado para sua aula de Fluência.

- Venha! – Cherrie me puxou pelo pulso. Acho que ela pegou certa “mania” por esse gesto.

Cherrie lançou a mochila e logo após seu corpo na quarta fileira do lado esquerdo do corredor. Eu a imitei.

“Não podia mesmo ser carteiras individuais!” Praguejei mentalmente. Ao menos, do meu lado direito o banco terminava e começava o corredor, portando só havia Cherrie ao meu lado esquerdo.

- Bom dia! – Professor Ferdinando Maloes era um homem alto e moreno, presumo que tivesse algum sangue mexicano em suas veias. Devia ter um cem anos de idade – acredite isso não é ser velho por aqui. Bruxos vivem em média quinhentos anos, e em ÓTIMA forma. Obrigada. Bem, o que você queria? Não somos humanos, e se existem os vampiros que jamais envelhecem, como as tartarugas que vivem mais de cem anos ou uma borboleta que vive apenas vinte e quatro horas. Tudo tem sua própria lei natural.

Ah é... O professor continuava falando.

- Vamos lá, é só nosso primeiro dia então vamos começar com algum feitiço simples. Quem pode me dizer as palavras do feitiço de levitação? – Ele perguntou sorridente.

“Livitio é claro”

Não que eu fosse dizer a resposta em voz alta.

- Livitio. – Ouvi uma voz animada em algum lugar da sala.

- Perfeitamente. – O professor sorriu. – Porque não escolhem um objeto pequeno e vamos brincar um pouco!

Oh o que poderia ser mais divertido do que fazer objetos voarem pro ai?

- Muito bem. – Ele murmurou e puxou seu grande medalhão para fora da camiseta social. Uma corrente dourada que caia até seu peito com uma ágata no centro.

Deixou a jóia na mesa a uma distancia razoável de suas mãos.

- Livitio. – Murmurou e logo o medalhão estava entre a mesa e as suas mãos. Flutuando no ar.

Não demorou até que a sala fosse infestada de objetos voadores.

Eu só puxei uma caneta do estojo e a ergui uns cinco centímetros no ar. Qual é, faço levitação desde que me entendo por gente.

- Ótimo. - Ele sorria.

“Bém-Bém” O som de um sino alto, como de uma igreja, tocou anunciando o fim do segundo tempo. O fim de duas longas horas de feitiços comuns e sem grandes utilidades.

- Oh a aula de fluência é bem interessante, só acho que preparação corporal pode realmente me tirar do sério, definitivamente eu não nasci para correr e socar. – Cherrie resmungava. - Ainda se tivermos que apostar algum tipo de corrida com um lobsomen! E com um lobsomem do ultimo ano!

Um tumulto ao alto da escadaria interrompeu as reflexões sobre as aulas.

- O que é isso? - Estiquei-me nas pontas dos pés, tentando encontrar o motivo das gargalhadas estrondosas que vinham de cima

- Minha santa Glinda do norte! Que diabos ela precisa de ajuda! – Cherrie proferiu sobre o alvo das risadas. Uma metamorfo empurrava varias corpos risonhos enquanto tentava descer as escadas. O motivo das piadas, bem ela não é tão alta e a pele parece porcelana de tão branca, tinha o cabelo vermelho vibrante e, claro, no lugar dos lábios um bico de pato.

Literalmente.

- Ela é uma metamorfo deve saber mudar de volta ao normal... – Eu comecei a tentar manter Cherrie de fora da questão, mas fui interrompida no momento em que a garota ruiva rolou escada abaixo.

- Gabriela! – Cherrie exclamou me puxando pelo pulso.

Logo a ruiva estava caída de cara no chão. Enquanto alguns desocupados continuavam rindo ao topo da escada.

- Você está bem? – Cherrie perguntou.

Oh claro, quem não estaria perfeitamente bem depois de rolar escada abaixo na frente de todos.

Bem, logo descobri o motivo da garota ter caído, ela não tinha apenas o bico de pata no rosto, mas como no lugar dos pés comuns nos sapatos pretos do uniforme, ela trazia pés de cabra.

Isso era estranho demais, até para mim.

Ela virou os olhos esverdeados e chorosos para Cherrie, imagino que tentando falar. Mas só grasnados saíram pela sua garganta. Enquanto ela segurava o braço.

- Acho que devemos levá-la para a enfermaria, ela rolou escada abaixo. – Disse por cima do ombro de Cherrie.

- Boa idéia. – Ela resmungou.

- Hey... hã, acha que quebrou o braço?

O rosto pálido, com algumas sardas claras no nariz fez que sim e soltou outro grasnado.

- Vamos.

Tive de me render e ajudar Cherrie a levar a metamorfo para a enfermaria, de preferência para longe das risadas, que provavelmente doíam mais que o braço quebrado.

Ela caminhou, com dificuldade devido aos seus pés de cabra, apoiada em mim e Cherrie.

Não tentou falar novamente, mas seus olhos verdes agora continham as lagrimas.

- Senhora Casanobba.

- Por favor, senhorita Cherrie Katashi, apenas Florence! – A enfermeira Florence Casanobba era uma bruxa alta esguia, de feições carinhosas e antigas.

- precisamos de ajuda. - Cherrie sorriu

- Oh, mais o que aconteceu querida? – Ela ajudou a metamorfo a seguir até uma maca, onde sentou seu corpo humano, seus pés de cabra e seu bico de pato.

- Ela caiu da escada. – Eu disse.

- Ah, seu pulso está quebrado. – Ela proferiu admirandos os ossos distorcidos por baixo da pele clara. – Mas primeiro você deve voltar ao normal, querida.

Essas palavras foram suficientes para trazer as lagrimas de volta ao rosto da ruiva.

- Não chore. Olha você pode voltar ao normal, acalme-se e concentre-se.

A garota ruiva parece para e considerar a idéia, fechou os olhos. Respirou e inspirou com força.

O bico de pato desapareceu deixando em seu lugar pequenos lábios rosados.

- Espere um momento. – A Enfermeira cantarolou com sua delicadeza. - Tome, isso vai te acalmar. É só um chá. – Ela sorriu passando um copo de barro para as mãos da metamorfo. Acalme-se. - Repetiu.

Em goles lentos, parados para respirações fortes, ela tomou todo o chá.

Isso fez com que as patas voltassem a ser pernas e pés.

- Bem melhor agora. – A enfermeira sorriu. – O pulso.

Ela estendeu a mão.

- Vou ter de prepar uma poção. – Ela resmungou. – Deve ter sido uma queda feia.

- O que você vai fazer? Não vai doer vai? Eu não gosto de agulhas! – A ruiva falou pela primeira vez sem que um grasnado viesse da sua garganta, agora ela mantinha apenas um sotaque britânico.

- Agulhas! Você acha que somos o que? Homens das cavernas! – Ela riu – É só um momento.

Ela pegou outro pote de barro o encheu de água e puxou uma corrente cheia de pérolas de dentro de uma gaveta. As pérolas são perfeitas para feitiços de cura.

- Livrate tuti male. – Murmurou jogando as pérolas dentro da água. – Livrate tuti male.

- Bom, agora isso pode doer um pouco. Preciso por o seu osso no lugar. – Ela estendeu a palma da mão convidativa.

A garota, ruiva e britânica, passou a braço quebrado com receio.

“Crash” eu ouvi o estalo.

- Argh! - Ela resmungou.

Logo Florence mergulhava as pérolas na água e as pressionava contra o pulso.

- Curatte. - Dizia enquanto acariciava o pulso com a poção e as pedras.

Ela passou uns dez minutos, murmurando , molhando e massageando o pulso.

- Muito bem querida, ainda dói?

- Não. – A garota respondeu feliz.

- Mecha o pulso. - A enfermeira pediu e a outra obedeceu, com movimentos perfeitos.

- Oh, você já está como nova! – Ela sorriu enquanto se levantava deixava as pérolas em meio a gazes brancas.

- Obrigada. – Ela sorriu saltando da maca.

- Estou aqui para isso.

- Obrigada Florence, até mais. - Cherrie se despediu feliz, eu me limitei a sorrir.

Logo caminhamos para fora das paredes brancas da enfermaria, de volta as paredes rochosas dos corredores.

- Hãm, obrigada. Por terem me ajudado em vez de ficarem rindo igual a um monte de hienas no cio. – A metamorfo sorriu.

- Não por isso, foi uma queda feia. Sou Cherrie Katashi meio japonesa, meio americana. – Cherrie disse mantendo sua eterna simpatia.

- Gabriela Alcântara. Brasileira. – Percebi que deveria me apresentar.

- Brigtte Van der Well. De Londres. – Isso explicava o sotaque. – Mas me chamem de Brige.

- Oi Brige! – Eu ri.

Mas em que momento eu me tornei tão sociável assim?