sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Capitulo quatro: Metamorfo

- Pra que diabos uma saia tem de ser tão comprida! – Cherrie reclamava, pela milésima vez, do uniforme.

- Porque isso é uma escola. – Resmunguei.

- Mas eles precisavam ser tão feios! Tinha esperança de que mudassem pra esse ano...

- Oh deus, é só um uniforme Cherrie! E ande logo! - A cortei tentando apresá-la.

Eu estava pronta, isso inclui um demorado banho e muito tempo perdido para arrumar os cachos de meu cabelo, enquanto Cherrie ainda estava arrumando um coque no seu.

E sabe se lá que horas ela acordou para isso!

- Você não está cumprindo a promessa de melhorar o humor! – Ela acusou.

- Nem você a sua, mas não importa. Ande logo!

- Tudo bem! Pronto! Qual é aula?

- Fluência. Professor Ferdinando Maloes. E estamos atrasadas.

- Pronto, já não disse? Pronto! – Ela agarrou a bolsa e passou a alça lateral pela cabeça.

- Finalmente! – Resmunguei.

Era a primeira aula de fluência, ora, você não queria que tudo se resolvesse com um abracadabra ou sinsalabim não é! Existem as palavras certas, com a pronuncia certa, no tempo certo.

Ninguém aqui disse que bruxaria era simples.

- Torre seis, sala oito. – Ouvi Cherrie do meu lado.

- Eu sei, já chequei.

Eu gostaria de ter prestado mais atenção no quadros que cercavam o corredor, eles eram dignos de serem observados. Bem, Se não estivesse atrasada graças a Cherrie, diga-se de passagem, gastaria um bom tempo olhando para as longas paredes dos corredores, mas agora, infelizmente, eles eram apenas borrões nas paredes.

Mas eu ainda tenho quatro anos para isso, não é?

- Viu só, chegamos na hora! – Cherrie cantarolou vitoriosa segurando a porta de madeira aberta.

- Dessa vez! – Joguei meu rancor em seus ouvidos enquanto passava por ela.

A sala era redonda e o piso era o mesmo da madeira do salão enquanto as paredes das mesmas rochas acinzentadas dos corredores. Haviam longas carteiras com bancos, um corredor que ia da porta até a mesa do professor e mais mesas longas.

Procurei por rostos conhecidos nos bruxos que já estavam lá, não encontrei nenhum. Anastácia e Abgail estavam na turma quatro e Lucy e seus amigos eram do ultimo ano.

- Hey, tomem os seus lugares! – Ouvi uma voz masculina atrás de mim. Professor Ferdinando Maloes havia chegado para sua aula de Fluência.

- Venha! – Cherrie me puxou pelo pulso. Acho que ela pegou certa “mania” por esse gesto.

Cherrie lançou a mochila e logo após seu corpo na quarta fileira do lado esquerdo do corredor. Eu a imitei.

“Não podia mesmo ser carteiras individuais!” Praguejei mentalmente. Ao menos, do meu lado direito o banco terminava e começava o corredor, portando só havia Cherrie ao meu lado esquerdo.

- Bom dia! – Professor Ferdinando Maloes era um homem alto e moreno, presumo que tivesse algum sangue mexicano em suas veias. Devia ter um cem anos de idade – acredite isso não é ser velho por aqui. Bruxos vivem em média quinhentos anos, e em ÓTIMA forma. Obrigada. Bem, o que você queria? Não somos humanos, e se existem os vampiros que jamais envelhecem, como as tartarugas que vivem mais de cem anos ou uma borboleta que vive apenas vinte e quatro horas. Tudo tem sua própria lei natural.

Ah é... O professor continuava falando.

- Vamos lá, é só nosso primeiro dia então vamos começar com algum feitiço simples. Quem pode me dizer as palavras do feitiço de levitação? – Ele perguntou sorridente.

“Livitio é claro”

Não que eu fosse dizer a resposta em voz alta.

- Livitio. – Ouvi uma voz animada em algum lugar da sala.

- Perfeitamente. – O professor sorriu. – Porque não escolhem um objeto pequeno e vamos brincar um pouco!

Oh o que poderia ser mais divertido do que fazer objetos voarem pro ai?

- Muito bem. – Ele murmurou e puxou seu grande medalhão para fora da camiseta social. Uma corrente dourada que caia até seu peito com uma ágata no centro.

Deixou a jóia na mesa a uma distancia razoável de suas mãos.

- Livitio. – Murmurou e logo o medalhão estava entre a mesa e as suas mãos. Flutuando no ar.

Não demorou até que a sala fosse infestada de objetos voadores.

Eu só puxei uma caneta do estojo e a ergui uns cinco centímetros no ar. Qual é, faço levitação desde que me entendo por gente.

- Ótimo. - Ele sorria.

“Bém-Bém” O som de um sino alto, como de uma igreja, tocou anunciando o fim do segundo tempo. O fim de duas longas horas de feitiços comuns e sem grandes utilidades.

- Oh a aula de fluência é bem interessante, só acho que preparação corporal pode realmente me tirar do sério, definitivamente eu não nasci para correr e socar. – Cherrie resmungava. - Ainda se tivermos que apostar algum tipo de corrida com um lobsomen! E com um lobsomem do ultimo ano!

Um tumulto ao alto da escadaria interrompeu as reflexões sobre as aulas.

- O que é isso? - Estiquei-me nas pontas dos pés, tentando encontrar o motivo das gargalhadas estrondosas que vinham de cima

- Minha santa Glinda do norte! Que diabos ela precisa de ajuda! – Cherrie proferiu sobre o alvo das risadas. Uma metamorfo empurrava varias corpos risonhos enquanto tentava descer as escadas. O motivo das piadas, bem ela não é tão alta e a pele parece porcelana de tão branca, tinha o cabelo vermelho vibrante e, claro, no lugar dos lábios um bico de pato.

Literalmente.

- Ela é uma metamorfo deve saber mudar de volta ao normal... – Eu comecei a tentar manter Cherrie de fora da questão, mas fui interrompida no momento em que a garota ruiva rolou escada abaixo.

- Gabriela! – Cherrie exclamou me puxando pelo pulso.

Logo a ruiva estava caída de cara no chão. Enquanto alguns desocupados continuavam rindo ao topo da escada.

- Você está bem? – Cherrie perguntou.

Oh claro, quem não estaria perfeitamente bem depois de rolar escada abaixo na frente de todos.

Bem, logo descobri o motivo da garota ter caído, ela não tinha apenas o bico de pata no rosto, mas como no lugar dos pés comuns nos sapatos pretos do uniforme, ela trazia pés de cabra.

Isso era estranho demais, até para mim.

Ela virou os olhos esverdeados e chorosos para Cherrie, imagino que tentando falar. Mas só grasnados saíram pela sua garganta. Enquanto ela segurava o braço.

- Acho que devemos levá-la para a enfermaria, ela rolou escada abaixo. – Disse por cima do ombro de Cherrie.

- Boa idéia. – Ela resmungou.

- Hey... hã, acha que quebrou o braço?

O rosto pálido, com algumas sardas claras no nariz fez que sim e soltou outro grasnado.

- Vamos.

Tive de me render e ajudar Cherrie a levar a metamorfo para a enfermaria, de preferência para longe das risadas, que provavelmente doíam mais que o braço quebrado.

Ela caminhou, com dificuldade devido aos seus pés de cabra, apoiada em mim e Cherrie.

Não tentou falar novamente, mas seus olhos verdes agora continham as lagrimas.

- Senhora Casanobba.

- Por favor, senhorita Cherrie Katashi, apenas Florence! – A enfermeira Florence Casanobba era uma bruxa alta esguia, de feições carinhosas e antigas.

- precisamos de ajuda. - Cherrie sorriu

- Oh, mais o que aconteceu querida? – Ela ajudou a metamorfo a seguir até uma maca, onde sentou seu corpo humano, seus pés de cabra e seu bico de pato.

- Ela caiu da escada. – Eu disse.

- Ah, seu pulso está quebrado. – Ela proferiu admirandos os ossos distorcidos por baixo da pele clara. – Mas primeiro você deve voltar ao normal, querida.

Essas palavras foram suficientes para trazer as lagrimas de volta ao rosto da ruiva.

- Não chore. Olha você pode voltar ao normal, acalme-se e concentre-se.

A garota ruiva parece para e considerar a idéia, fechou os olhos. Respirou e inspirou com força.

O bico de pato desapareceu deixando em seu lugar pequenos lábios rosados.

- Espere um momento. – A Enfermeira cantarolou com sua delicadeza. - Tome, isso vai te acalmar. É só um chá. – Ela sorriu passando um copo de barro para as mãos da metamorfo. Acalme-se. - Repetiu.

Em goles lentos, parados para respirações fortes, ela tomou todo o chá.

Isso fez com que as patas voltassem a ser pernas e pés.

- Bem melhor agora. – A enfermeira sorriu. – O pulso.

Ela estendeu a mão.

- Vou ter de prepar uma poção. – Ela resmungou. – Deve ter sido uma queda feia.

- O que você vai fazer? Não vai doer vai? Eu não gosto de agulhas! – A ruiva falou pela primeira vez sem que um grasnado viesse da sua garganta, agora ela mantinha apenas um sotaque britânico.

- Agulhas! Você acha que somos o que? Homens das cavernas! – Ela riu – É só um momento.

Ela pegou outro pote de barro o encheu de água e puxou uma corrente cheia de pérolas de dentro de uma gaveta. As pérolas são perfeitas para feitiços de cura.

- Livrate tuti male. – Murmurou jogando as pérolas dentro da água. – Livrate tuti male.

- Bom, agora isso pode doer um pouco. Preciso por o seu osso no lugar. – Ela estendeu a palma da mão convidativa.

A garota, ruiva e britânica, passou a braço quebrado com receio.

“Crash” eu ouvi o estalo.

- Argh! - Ela resmungou.

Logo Florence mergulhava as pérolas na água e as pressionava contra o pulso.

- Curatte. - Dizia enquanto acariciava o pulso com a poção e as pedras.

Ela passou uns dez minutos, murmurando , molhando e massageando o pulso.

- Muito bem querida, ainda dói?

- Não. – A garota respondeu feliz.

- Mecha o pulso. - A enfermeira pediu e a outra obedeceu, com movimentos perfeitos.

- Oh, você já está como nova! – Ela sorriu enquanto se levantava deixava as pérolas em meio a gazes brancas.

- Obrigada. – Ela sorriu saltando da maca.

- Estou aqui para isso.

- Obrigada Florence, até mais. - Cherrie se despediu feliz, eu me limitei a sorrir.

Logo caminhamos para fora das paredes brancas da enfermaria, de volta as paredes rochosas dos corredores.

- Hãm, obrigada. Por terem me ajudado em vez de ficarem rindo igual a um monte de hienas no cio. – A metamorfo sorriu.

- Não por isso, foi uma queda feia. Sou Cherrie Katashi meio japonesa, meio americana. – Cherrie disse mantendo sua eterna simpatia.

- Gabriela Alcântara. Brasileira. – Percebi que deveria me apresentar.

- Brigtte Van der Well. De Londres. – Isso explicava o sotaque. – Mas me chamem de Brige.

- Oi Brige! – Eu ri.

Mas em que momento eu me tornei tão sociável assim?

3 comentários:

  1. rsrsrsrs, eu nao sou nada carismatica tambem...

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  2. eu muito menos, isso é algo que tenho em comum com a Gabriela -Q

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  3. ps. Voc já viu a cmm no orkut? Lá tem tudo sobre a saga *-*
    http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=105511376

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