segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Capitulo dezessete: Rosas.

- Eu fiz um novo plano. – Cherrie falou. – Não é um plano bom, mas foi o único acordo que consegui fazer com Miguel. Vocês sabem, sobre o espírito.

- E qual é? – Brige perguntou.

- Um adiamento, não um cancelamento.

- Então você vai fazer mesmo isso? – Perguntei.

- Vou. Mas não antes das férias de julho pelo menos, eu preciso aprender a controlar. Miguel concordou em me ajudar.

- Mas Miguel não é um médium tão bom assim, quero dizer, ele só tem três anos a mais nisso do que você. – Resmunguei. – Ainda é arriscado.

- Talvez ele seja novo como eu, mas Miguel ainda é tudo o que eu tenho. – Respondeu.

- Só tome cuidado. – Retruquei.

- Você se preocupa por minha causa ou por causa do que Marek disse?

- Na verdade, as duas.

- Tudo bem, pratique com Miguel, depois descobrimos o que fazer. – Brige finalizou.

Suspirei olhando ao redor. Horário de almoço. Todos os alunos no salão, todos eles.

Inclusive Lia a alguns grupos de distancia. Baixei os olhos.

Ela havia me ignorando completamente todo o dia.

Isso era bom, não?

- Não se preocupe tanto, Gabs, ainda mais com ela. – Ouvi Brige distante.

- Não estou preocupada com ela. – Retruquei.

- É, acho que você devia se preocupar com outra coisa agora. – Cherrie sussurrou.

Virei –me e a poucos metros atrás de mim vi Pietro, a gravata listrada frouxa sob a camisa social branca, sério, como sempre.

- Gabriela. – Disse quando se aproximou. – Posso ter um minuto com você?

- Pode dizer o que quer fazer? - Brige interrompeu, em seguida chiou de dor por uma cotovelada que levou de Cherrie.

- Somente uma conversa. – Pietro respondeu assim mesmo.

- Tudo bem. – Levantei-me da mesa do almoço. – Só uma conversa. – Ele acenou para que eu o seguisse até fora do refeitório.

Apenas encarei meus sapatos enquanto nos dirigíamos para fora do salão.

- Gabriela. – Pietro começou a falar, ainda de costas para mim, quando chegamos ao outro salão. – Acho que temos esclarecimentos a serem feitos.

- Olha, você pode não acreditar, mas eu não queria machucar ninguém, nem mesmo Lia, mas tente se colocar em meu lugar por um momento. Ela me atacou também.

- Escute um minuto. – Ele me interrompeu. – Nós, eu e minha irmã, devemos desculpas a você pelo nosso comportamento na última noite.

- Não acredito que Lia venha me pedir desculpas.

- E não virá, esse é o meu ponto Gabriela, não ocorreram danos permanentes e ambas as partes erraram, portanto, considero justo que você esqueça o acidente e não perturbe Lia de novo.

- Não entendi. Você quer se desculpar ou dizer que eu não devo provocar mais nada?

- Os dois.

- Ótimo. Nunca tive intenção de falar com Lia, de qualquer forma. – Retruquei.

- Perfeito. – Pietro murmurou.

- Só isso? – Perguntei

- Na verdade, há mais uma coisa. – Pietro continuou. – Espero que mantenha sua palavra de esquecer o ocorrido, porque eu irei até o fim para defender minha irmã em qualquer situação.

- Isso me soou como uma ameaça. – Cruzei os braços.

- Encare como um aviso amigável. Nós, os Pellegrini, não gostamos de manter inimigos.

- Você não parece uma má pessoa Pietro, mas deve conhecer a irmã que tem. Eu vou manter distancia dela, mas ela vai manter de mim?

-Eu cuidarei disso pessoalmente. – Garantiu estendendo-me a mão.

- Ótimo. – Apertei sua mão em sinal de acordo.

- Gabriela, tudo bem? – Soltei e me virei bruscamente ao ouvir a voz.

Ben e Marek nos encaravam.

- Tudo. – Respondi. Ben encarava mais a Pietro do que a mim.

- Vocês pensam que sou algum tipo de mostro insano? – Pietro riu baixinho, sem humor nenhum.

- Não Pietro. Só acho que você é insano quando se trata de Lia. – Ben resmungou. – Brige nos contou que você procurou Gabriela.

- A garota ruiva não? Metamorfa corajosa e enxerida.

As badaladas dos sinos soaram. Fim da hora do almoço.

- Acho que você tem de voltar para sua aula. De qualquer forma, não os incomodarei mais se não for necessário. – Pietro disse olhando em meus olhos, antes de se afastar.

- E você sabe que não sou o maior problema aqui, Marek. – O ouvi murmurar enquanto ia embora.

Logo o salão foi invadido por alunos.

***

“Ele me assusta, com aquelas roupas estilo Hercule Poirot e aquele olhar de eu sei o que você fez no verão passado”

Ri para bilhete que Cherrie me passou na aula, enquanto o professor Maloes falava sobre alguma coisa que eu não me importei em descobrir o que era.

Porque as últimas aulas sempre são as que mais demoram a passar?

“A pose é maior que a atitude. Pietro não é tão mal assim”

Escrevi abaixo da mensagem dela.

- Ferdinando, não se importa de me emprestar Gabriela Alcântara pelo resto de sua aula, não é? - Quase pulei assustada do banco ao ouvir meu nome. Marek estava na porta da sala de aula.

- Não. – O professor gesticulou para que eu saísse.

- Obrigado. – Marek respondeu enquanto Cherrie amassava o bilhete e u enfiava meus livros dentro da bolsa.

Sai sussurrando um tchau para Cherrie.

- Se importa em perder a última aula de hoje para uma atividade extracurricular? – Marek perguntou pegando minha bolsa e a jogando nas costas.

- Minha próxima aula é astronomia, eu a perderia por qualquer coisa.

Marek riu.

- Não se acostume, vamos arrumar um horário separado para isso.

- Isso o que? – Perguntei.

- Me siga.

- Acho que não é uma boa ideia. – Resmunguei olhando a bola de futebol na mão de Marek.

- Pensei que você gostasse de futebol.

- De assistir, não de jogar.

- Deixo você sair com a vantagem de um a zero.

- Tudo bem, só não entendo o porquê você me tirou da aula pra isso. – Disse procurando algo para prender o cabelo dentro da mochila que agora estava no chão, fiz um rabo de cavalo e joguei a bolsa pra fora da campo que era geralmente usado para as aulas de preparação corporal.

- O que você sentiu quando atacou uma Pellegrini na última noite? – Marek perguntou.

- Porque todo mundo insiste em esquecer que ela me atacou primeiro? Que inferno. – Revidei.

- Responda.

- Raiva. Muita raiva. Eu parei de pensar, me desliguei do resto. Só sentia raiva.

- Parou de pensar, você não quis atacar. Quis? – Ele suspirou.

- Não, na verdade não sei como fiz aquilo. – Murmurei.

- Exatamente onde eu quero chegar. – Marek sentou-se no gramado e eu o imitei, deixando-me cair do seu lado.

- Minha raiva? – Perguntei.

- Não. Você não saber como fez aquilo. – Respondeu.

- Ah... Ben disse que acha que sou uma bruxa mais forte do que penso ser.

- E Benjamin está certo, por isso nós temos de trabalhar suas emoções. Você não pode perder o controle.

- Mas foi a primeira vez que aconteceu alguma coisa assim. – Resmunguei novamente.

- Mas não a primeira vez que você se sentiu assim, não é? Não era apenas raiva, era? – Marek perguntou.

- Isso é tão confuso. – Apoiei minha cabeça nos joelhos. – Acho que eu estou ficando louca.

- Quanto mais louco mais interessante. - Ele deu um tapinha nas minhas costas. – Agora pare de fazer corpo mole. Vamos dar uma canseira nessas suas emoções.

Marek em puxou pelo braço e me fez ficar de pé.

- Tudo bem. E olha, eu posso não saber chutar, mas sei correr. – Lancei meu melhor olhar de desafio.

- Ótimo. E lembra da vantagem de um a zero? Era mentira. – Marek sorriu.

Eu perdi por um gol de diferença, passei quase uma hora e meia correndo pelo campo, caindo na grama, estava cansada e precisava mesmo de um banho.

Só que eu estava rindo.

Quase corri pelos corredores lotados de rodinhas de alunos felizes pelo termino da última aula do dia, empenhei-me em não olhar para o rosto de ninguém enquanto corria para o dormitório sonhando com o banho que me esperava. Quase trombei com Cherrie, Brige e as gêmeas saindo do quarto enquanto entrava.

- Você veio de que guerra? – Brige perguntou.

- Longa história. Conto no jantar, depois que tomar um banho. - Sorri

- Boa sorte com isso.

Fechei a porta do quarto, peguei a primeira roupa da gaveta e fui para o banheiro.

Depois de concluir que levaria meia dúzia de lavagens para tirar toda a grama do meu uniforme, enfiei-me no chuveiro de deixei a água quente escorrer.

A sensação foi ótima, tanto que demorei um pouco mais que o necessário para lavar todo o meu cabelo.

Depois de me secar, pentear o cabelo e vestir a roupa que descobri ser uma calça do jeans mais surrado do mundo e uma camiseta cinza, sai do banheiro.

E devo ter pulado uns três metros por causa do susto que levei.

- Desculpe. Cherrie disse que você estaria aqui e a porta estava destrancada. – A voz veio das costas de Ben.

- Tudo bem. – Resmunguei. – Eu estou vestida, se é por isso que você está de costas pra mim.

Ele se virou com um sorriso torto que me distraio o suficiente para que eu demorasse a reparar no que ele trazia consigo.

- Desculpe. – Repetiu se aproximando e estendeu um botão de rosa branca que trazia em suas mãos para mim. – Até Marek anda ajudando mais você com seus poderes do que eu.

- Ben, você não tem de me ajudar com nada. Eu estou bem. – Sorri pegando a flor – É linda.

- O que Pietro disse a você hoje? – Ben perguntou.

Suspirei e o puxei para que ele se sentasse ao meu lado na minha cama.

- Que nós podemos esquecer o incidente desde que eu não perturbe Lia mais. – Carreguei minha voz de sarcasmo.

Ouvi um riso sem humor de Benjamin.

- Mas é o que eu quero na verdade. Esquecer o que aconteceu. – Tombei minha cabeça no seu ombro e distrai-me com o perfume da rosa.

- Podemos tentar fazer isso então. – Ele respondeu acariciando meu cabelo molhado.

- Tenho que buscar um jarro com água para que ela possa durar mais. – Pensei alto enquanto deixava à rosa na escrivaninha ao lado da minha cama.

- Quando ela murchar eu trago outra para você. – Benjamin sorriu e envolveu os braços na minha cintura.

- Você não existe. – Sorri e deixei que ele me beijasse.

- Não me tenha em tão alta conta assim, Amore mio. – Ele sussurrou quando separou seus lábios dos meus.

- Porque eu não deveria?

- Porque eu demorei muito tempo para começar a fazer as escolhas certas.

- Como qual escolha? – Perguntei em esperança de conseguir algo mais que as frases incompletas sobre o passado dele.

- Como a que vou fazer agora. – Sorriu. – Você se lembra da noite em que se apresentou para Lia como minha namorada?

- Ah, lembro. Olha... Eu... – Senti as bochechas queimarem.

- Eu adorei ouvir. – Ele contornou a curva do meu lábio inferior com o dedo. – Só lamentei não fazer isso do modo certo.

- Modo certo?

- É, um pedido. – Ele sorriu e a mão deslizou sobre meu rosto, estava tão próximo que eu sentia sua respiração em minha face. – Gabriela, você poderia me dar a felicidade de aceitar meu coração como seu?

Demorei alguns segundos para processar a pergunta e pensar em uma resposta. E no final só consegui dizer um patético:

-Sim.

O problema é que eu não estava mais apenas apaixonada por ele.

Eu o amava.

Afundei minha mão em seus cabelos e puxei Ben para outro beijo, suas mãos contornaram minha cintura até me puxarem para o seu colo enquanto ele descia os lábios para o meu pescoço. Segurando seu rosto, inverti a situação deixando que meus lábios contornassem curvas de sua garganta, descendo até o ponto em que tiver de começar a brigar com os botões de sua camisa para encontrar mais pele. Desabotoei o primeiro e o segundo, a partir do terceiro Ben me ajudou até que ele se livrasse da camisa.

Suas mãos deslizaram até apertarem meus quadris, me puxando até que nossos corpos ficassem colados, senti seus lábios darem leves chupões no lóbulo da minha orelha enquanto suas mãos acompanhavam minha coluna por de baixo do pano da minha roupa.

Havia uma pequena parte racional no meu cérebro dizendo alguma coisa, mas eu não queria ouvi-la.

Os beijos dele desceram novamente, desta vez no meu ombro, fazendo com que a alça fina da minha blusa caísse. Continuou descendo até que seus lábios chegassem na minha barriga enquanto ele nos deitava.

Ah, cale a boca parte racional idiota.

As mãos subiram pela minha coluna de novo até o feixe do meu sutiã.

- Ben... Benjamin...

- O que? – Ele perguntou antes de subir de novo até meu pescoço.

- Não... Não... Calma. – Murmurei procurando fôlego.

Ben apoiou-se nos cotovelos, me dando algum espaço.

- Não é uma boa ideia. Eu não, eu não... Eu nunca. – Argh, droga, alguém de um tiro na minha cabeça, por favor.

- Nunca? – Ele arqueou as sobrancelhas.

- Eu não tinha nem amigos antes de vir pra cá, imagine alguém com quem...

Ele sorriu. Eu quis ser um avestruz e enfiar minha cabeça dentro a terra. Deus!

-Nada do que você não queria vai acontecer, Amore mio. – Ele me deu um selinho antes de se levantar, procurando pela sua camiseta.

- Eu queria poder lhe oferecer algo melhor que o refeitório da escola, mas janta comigo esta noite? – Ele riu estendendo a mão para mim.

- Claro. – Sorri.

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